Título: 'Não aceitamos linchamento', diz Berzoini
Autor: Costa, Rosa e Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2007, Nacional, p. A4

Para ele, senador merece apreço do PT porque sempre foi aliado de Lula.

Pela segunda vez em menos de um mês, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), saiu ontem em defesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). ¿Não aceitamos linchamento público nem constrangimento para forçar o presidente do Senado a se licenciar da função ou a renunciar.¿

Na véspera de a Mesa Diretora do Senado decidir se encaminha à Polícia Federal pedido de perícia nos documentos apresentados por Renan - acusado de ter despesas pessoais pagas por uma empreiteira -, Berzoini disse que o senador ¿merece apreço¿ do PT porque sempre foi aliado do presidente Lula. Berzoini ontem adotou linha de defesa de Renan mais cautelosa do que em outras ocasiões. ¿Ninguém está acima das investigações. Cabe aos senadores verificar o que há de justo ou injusto nas acusações contra o senador e não há razão para termos um ponto de vista partidário sobre esse assunto.¿

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, insistiu em que Renan precisa ter ¿direito de defesa¿, mas evitou entrar no mérito das denúncias, sob alegação de que só pode haver conclusão ao final do processo.

Dulci aproveitou para rebater o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que vê o País paralisado pela crise envolvendo Renan. ¿Pode ser que FHC tenha o desejo de que o País fique parado para que a responsabilidade possa ser imputada ao presidente Lula. Confunde realidade com desejo.¿

Ao sair ontem de uma reunião com líderes das bancadas estaduais do PT, na sede do partido, Dulci procurou jogar água na fogueira da crise. ¿Fazer crítica não significa que há crise¿, amenizou. ¿A oposição sempre tenta combater o governo e tem o direito de fazer isso, mas sem exagerar nem falar mentiras.¿

Apesar das declarações em defesa de Renan, a cúpula do PT não vai abraçar a causa do aliado. Dirigentes do partido avaliam que o jogo adversário embute, sim, tentativa de desgastar Lula, mas temem associar a sigla a mais um escândalo. Petistas argumentam que Lula não é o alvo principal da estratégia oposicionista e, embora se solidarizem publicamente com Renan, não podem cometer ¿haraquiri político¿ se a derrocada for evidente.

O governo e o PT consideram que Renan deu munição aos rivais quando forneceu ao Conselho de Ética notas fiscais que comprovariam rendimentos de R$ 1,9 milhão com a venda de gado. Investigações da Polícia Federal encontraram indícios de que muitas delas são frias.

Por enquanto, o discurso combinado entre o Planalto e dirigentes do partido é de que Renan, no máximo, pode ter ¿problema com o Fisco¿. Esta versão será mantida ou modificada de acordo com as circunstâncias. Petistas temem que novas sindicâncias apontem de forma definitiva seu envolvimento em irregularidades.