Título: Sob ameaças da oposição, Renan se declara impedido de atuar no seu caso
Autor: Costa, Rosa e Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2007, Nacional, p. A4

Ensaiada nos últimos dias, a manobra para atrasar o aprofundamento das investigações contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu força no Congresso. Hoje, a Mesa Diretora do Senado se reúne para decidir sobre o envio à Polícia Federal de um pedido de perícia detalhada nos documentos apresentados pelo parlamentar alagoano para comprovar ganhos de R$ 1,9 milhão com a venda de gado nos últimos quatro anos.

Um mês e meio depois que estourou o escândalo envolvendo seu nome, o presidente do Congresso decidiu ontem se considerar formalmente impedido de tomar qualquer iniciativa relacionada ao processo por quebra de decoro parlamentar.

Em um movimento que indicou recuo no uso de seu arsenal de intervenções, Renan enviou ontem ao presidente do Conselho de Ética, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), ofício em que pede que ¿qualquer expediente¿ relacionado ao caso seja encaminhado ao primeiro vice-presidente da Casa, senador Tião Viana (PT-AC).

Ao mesmo tempo, o parlamentar disparou telefonemas para integrantes da Mesa Diretoria garantindo que não há nenhuma manobra para adiar mais uma vez o seu processo.

Renan vem sendo acusado de ter despesas pessoais - incluindo a pensão de uma filha fora do casamento - pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior. Todos negam as acusações, mas o senador se complicou ao tentar justificar seus ganhos com gado, quando pretendia demonstrar que não precisava da ajuda de nenhuma empreiteira.

REPRESÁLIA

Na última quinta-feira, Renan surpreendeu aliados e oposição ao remarcar para hoje a reunião da Mesa. Ele alegou que precisava dar tempo tanto para o seu advogado quanto para o do PSOL, autor da representação ao Conselho de Ética, tomarem conhecimento do pedido à PF.

Assim, ele quebrou acordo com a oposição que havia garantido a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso, em troca do envio do pedido de nova perícia. Em represália, a oposição abandonou o plenário e ameaçou obstruir todas as votações até que Renan se afastasse do posto.

Ontem, o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN), ameaçou de novo boicotar as votações, caso Renan articulasse alguma manobra protelatória na reunião da Mesa, como um eventual pedido de vistas - mais prazo para analisar o caso - encomendado a um aliado.

¿Se houver pedido de vistas terá sido orientação do Palácio do Planalto. Não vamos aceitar isso. Em nome da credibilidade do Senado, não vamos aceitar votar nada sob a presidência de Renan Calheiros. Vamos nos retirar do plenário¿, advertiu o líder do DEM.

O senador Magno Malta (PTB-ES), quarto secretário da Mesa do Senado, negou ontem que tenha feito qualquer articulação para favorecer o presidente do Senado hoje. ¿Jamais pediria vistas ao processo¿, assegurou.

VIGILÂNCIA

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio Neto (AM), divulgou uma nota alertando que o partido ¿estará vigilante e confiante em que será resgatado, ainda que com juros de mora políticos, o acordo da semana passada, para que sejam repassados à Polícia Federal os elementos necessários à investigação dos documentos apresentados pela defesa¿.

Na nota, o tucano ressaltou que o processo precisa ter andamento. ¿Quem espera firmeza, não se decepcionará com os senadores do PSDB e a oposição¿, avisou.

Passada a reunião da Mesa, Renan vai estudar com seus advogados entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o processo aberto no Conselho de Ética. Uma das hipóteses seria alegar que, como parlamentar, ele só pode ser investigado pelo Judiciário.

¿Se houver algo contra a lei, que prejudique o Renan, ele que entre na Justiça¿, observou o senador Papaléo Paes (PSDB-AP), que ocupa o cargo de primeiro suplente da Mesa. De público, Renan nega intenção de recorrer. ¿Não estou pensando em fazer isso¿, garantiu.