Título: Impacto no Planalto surpreende analistas
Autor: Monteiro, Tânia e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2007, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deveria se preocupar excessivamente com as vaias que recebeu durante a abertura dos Jogos Pan-Americanos no Rio, sexta-feira, que o levaram até a se declarar ¿chateado¿ em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente. Diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra se surpreendeu mais com a reação de Lula do que com os apupos.

¿O presidente pode ter altos índices de aprovação, mas não é uma unanimidade e nunca será¿, afirmou. Coimbra questionou também o raciocínio de Lula, que disse ter se sentido como um convidado para uma festa que é rejeitado ao chegar. ¿Aquela não era uma festa privada, onde só há amigos e as pessoas, em geral, lhe tratam bem. Era um evento público, com milhares de pessoas de opiniões diversas.¿

Coimbra lembrou que nenhum presidente nos últimos tempos saiu ileso em eventos com grande público. ¿Não seria saudável, nem nós queremos assim, que as pessoas tenham uma relação quase litúrgica com o poder. Durante o regime militar, se você desrespeitaste a Bandeira, poderia ser preso, o que não é mais o caso.¿

Para o cientista político Rubens Figueiredo, as vaias foram causadas por uma conjunção de fatores: insatisfação da classe média com atitudes do governo, saturação da imagem do presidente, que aparece muito, e o fato de o público que vaiou não integrar as classes C e D, nas quais Lula goza de avaliação extremamente favorável, mas sim extratos das classes A e B. ¿A classe média está extremamente incomodada com a falta de ação do presidente na questão da aviação e revoltada com a impunidade de políticos apoiados por ele, como o presidente do Senado, Renan Calheiros¿, afirmou.

REPROVAÇÃO

Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, por sua vez, desfia os números de aprovação do presidente no município do Rio - muito abaixo das médias estadual e nacional - para demonstrar uma certa tradição oposicionista da cidade.

¿O Estado do Rio mantém números mais baixos que o Brasil de aprovação a Lula, enquanto no município são ainda menores¿, afirmou. Isso se explica, de acordo com o cientista político, porque no Rio, cidade com muitos problemas de infra-estrutura, se criou uma tradição política extremamente crítica. Se o presidente que estivesse no palanque fosse outro, a crítica também seria ácida, avalia.

De qualquer maneira, na opinião de Guedes, o presidente acabou, ao comentar o assunto no programa de rádio, tornando o episódio maior do que realmente é. ¿O Rio tem uma população próxima de 6 milhões, enquanto o Brasil tem 183 milhões. Então, mesmo que fosse a população inteira vaiando, ainda assim representaria a minoria¿, comparou o especialista em relações públicas.