Título: Oposição vê incoerência política na proposta
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2007, Nacional, p. A6

Avaliação é de que o presidente Lula retoma pontos da reforma administrativa apresentada por FHC e duramente criticada pelo PT

Os partidos de oposição se surpreenderam com o teor da proposta enviada pelo governo ao Congresso prevendo a contratação de servidores públicos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Para os adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trata-se da retomada de pontos da reforma administrativa apresentada por Fernando Henrique Cardoso no seu primeiro mandato (1995-1998) e que foi contestada duramente na ocasião pelo próprio PT.

¿Só para ficar no contexto dos Jogos Pan-Americanos, se houvesse uma competição de incoerência política, o presidente Lula já estaria com a medalha de ouro no peito¿, ironiza o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), ex-integrante do PT. ¿Gostaria de saber em que momento das duas campanhas presidenciais, Lula falou que precisaria criar uma fundação estatal de direito privado para tratar da saúde ou de outras áreas. Pelo que me lembro, aliás, um dos motes de campanha contra o adversário Geraldo Alckmin era dizer que se ele fosse presidente, privatizaria tudo. Essa proposta representa um sinal de pouca confiança do governo no funcionalismo. É uma visão neoliberal para o setor¿, completa.

Para os parlamentares tucanos, a tendência é que o PSDB acabe apoiando a proposta. ¿Até porque seria incoerente de nossa parte ficar contra algo que tentamos aprovar durante todo o governo Fernando Henrique, dentro da reforma administrativa¿, afirma o líder da minoria na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS). ¿Mas parece que o PT funciona como violino dentro do governo. Pega com a esquerda, mas toca com a direita. Estão aprofundando o governo neoliberal do presidente Fernando Henrique e superando o mestre¿, provoca.

Os parlamentares de oposição também estão surpresos com a reação favorável à proposta demonstrada por antigos adversários ferrenhos de idéias desse tipo, como o deputado Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, ex-presidente da CUT. ¿Eles agora seguem a cartilha do neoliberalismo e parecem ficar embevecidos com qualquer proposta que venha do Palácio do Planalto¿, afirma Redecker.

RESISTÊNCIA

Apesar de a proposta ter como origem princípios semelhantes aos defendidos pelo PSDB e pelo DEM em anos anteriores, não existe garantia de que o texto passe facilmente pelo crivo do Congresso. ¿Prevejo uma reação semelhante à enfrentada pela primeira proposta de reforma previdenciária enviada pelo presidente Lula ao Congresso em 2003 e que teve grande resistência¿, avalia Chico Alencar. Na época, petistas contrários à proposta acabaram expulsos do partido. Entre eles, a ex-senadora Heloísa Helena (AL), hoje presidente nacional do PSOL.

¿A base do governo hoje enfrenta muitos problemas e isso deve se refletir em qualquer votação mais polêmica¿, avalia o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). ¿A princípio, os Democratas são favoráveis a qualquer projeto que garanta melhor atendimento em áreas críticas como a da saúde ou segurança. Mas precisamos estudar o projeto para saber se a proposta do governo não embute algo que possa acabar com garantias dos trabalhadores. Com isso, nós não concordaremos¿, afirma Maia.

Na opinião do deputado, o governo resolveu adotar o projeto porque tem pesquisas de opinião que indicam críticas pesadas à atuação federal na saúde e na segurança. ¿O presidente Lula sabe que essa área está sendo mal avaliada e precisa fazer algo para obter mais eficiência nesses setores, já que assumiu compromissos de campanha importantes e os resultados não aparecem.¿