Título: FHC: 'Talvez um pouco de humildade ajude'
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2007, Nacional, p. A6

Após vaias, ex-presidente aconselha Lula a fazer uma auto-avaliação e a se perguntar: `Será que eu sou tão bom como estou dizendo que sou?¿

No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ter ficado triste com as vaias recebidas na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o sucessor, em vez de lamentar, deveria usar o episódio para perguntar a si mesmo se ele é tudo o que está dizendo que é. ¿Acho que o presidente Lula precisa, como eu, você e todos nós, olhar e perguntar: `Será que eu sou tão bom como estou dizendo que sou?¿¿, afirmou o tucano ontem. Depois de aconselhar a Lula uma auto-avaliação, Fernando Henrique arriscou um palpite: ¿Talvez um pouco de humildade ajude.¿

As declarações foram dadas após palestra do ex-presidente em um evento promovido pelo PSDB em homenagem aos oito anos da morte do ex-governador André Franco Montoro.

Diferentemente de outras ocasiões, o tucano evitou polemizar mais sobre o protesto no Estádio do Maracanã e chegou a minimizar as vaias a Lula. ¿Vida pública é assim mesmo. Tem momentos de vaias e de aplausos. Isso não tem um significado transcendente não.¿

Também não quis opinar sobre os motivos que teriam levado o público a protestar. ¿Sei lá. Tem de perguntar para quem estava lá.¿ Mas ponderou que, ¿seguramente, os que estavam lá não estão muito felizes com o que está acontecendo¿. Perguntado se se juntaria aos manifestantes e vaiaria Lula, o ex-presidente desconversou. ¿Eu? Eu não vaio ninguém¿, disse, entre risos.

Fernando Henrique disse não acreditar que o protesto possa ter vindo de algum grupo organizado. ¿Não acredito. Mas também não levo isso muito ao pé da letra.¿ Ele destacou ainda que o episódio tem um lado ¿bom¿ e a arrogância não é a melhor saída nesses casos. ¿É até bom, porque quem é líder precisa perceber que, se tem Planalto, tem a planície. Tem pontos de vista diferentes. Vai ser sempre assim. E a gente tem de se habituar democraticamente e não ser arrogante.¿

O ex-presidente criticou a proposta do governo Lula de criar fundações estatais de direito privado para gerenciar os hospitais federais e melhorar o atendimento à população. Para ele, o projeto encaminhado ao Congresso evidencia mais uma incoerência do governo petista e representa um ¿atalho¿ em relação ao projeto elaborado na gestão tucana. ¿Acho incoerente, porque eles se opuseram à reforma que eu tinha mandado, que não era tão forte como esta que foi mandada agora¿, afirmou. ¿Não sei se essa é a melhor fórmula. Talvez tenham proposto isso para evitar fazer um mea-culpa e dizer `devíamos ter aprovado uma reforma mais global do funcionalismo¿.¿

Ele também classificou a medida como complicada. ¿Eu não li com atenção, mas aparentemente se criam duas categorias de funcionários, sendo que uns ganham mais que outros. Aí, vai ser uma complicação muito grande.¿ Pelo projeto de Lula, os funcionários a ser contratados pelas fundações seguiriam o regime da CLT.

Segundo ele, a proposta apresentada no governo tucano era bem mais simples. ¿Era simplesmente permitir que houvesse um mecanismo de dispensa de funcionários quando não estivessem prestando serviço à coletividade.¿