Título: Deputados vêem interesse político na importação
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2007, Economia, p. B1

Deputados acusam a Comissão Européia de estar 'encobrindo' os problemas fitossanitários no Brasil por motivos políticos. Ontem, durante a sessão do Parlamento Europeu que tratou da situação das carnes nacionais, a questão deixou de ser técnica. Para os produtores, a Comissão se recusa a aplicar o embargo para conter a inflação européia, já que os produtos importados são mais baratos. Em 2006, 66% da carne bovina importada pela Europa era brasileira, e isso mesmo com a tarifa de importação de quase 180%.

Afetados cada vez mais pela concorrência brasileira, os irlandeses foram os que mais atacaram o País na sessão. O deputado irlandês Mairead McGuinness resumiu a questão: 'Esse é hoje, provavelmente, o assunto de maior importância na Irlanda.' A reunião, que deveria ter durado 45 minutos, acabou se arrastando por duas horas.

Dos mais de 30 deputados que integram o comitê de agricultura do Parlamento, poucos defenderam o Brasil.

Entre os que atacaram, a maioria era do Reino Unido, Irlanda e Leste Europeu e pertencia a partidos de extrema direita. Mesmo com o embargo da carne de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, as exportações brasileiras continuam crescendo. Para o deputado da Escócia, Alyn Smith, isso prova que o sistema precisa ser revisto. 'Se um fazendeiro europeu agisse como um brasileiro, já estaria na cadeia', afirmou.

Os irlandeses dizem que as exportações brasileiras estão levando frigoríficos e fazendeiros à falência. Padraig Walshe, presidente da Associação Irlandesa de Carne Bovina, que patrocinou a investigação sobre o Brasil, afirmou ao Estado: 'Se o padrão europeu fosse exigido do Brasil, a carne não seria tão competitiva.'

Para a ministra da Agricultura da Irlanda, Mary Coughlan, que ontem esteve com a Comissão Européia para tratar do assunto, o que existe é uma 'ameaça comercial '. 'Como é que um fazendeiro europeu pode ser competitivo contra um produto que custa menos, mas não tem os mesmos padrões?'

Walshe também adota a versão de que a Comissão Européia tem motivos políticos para encobrir os problemas no Brasil. 'A UE já admitiu que há falhas enormes na produção no Brasil. Nós fomos lá (nas fazendas brasileiras) e vimos com nossos próprios olhos, e por isso achamos que é inaceitável que essa carne continue competindo com a nossa', disse.

'A Comissão vem usando a importação de alimentos como forma de combater a inflação. Não tenho dúvida de que a decisão de manter a importação do Brasil é essencialmente política', disse Walshe.