Título: Mantega e o baixo crescimento do PIB
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2007, Economia, p. B2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, dá tantas entrevistas que esquece o que já disse antes: diante da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados explicou, por exemplo, que no ano passado a estratégia do governo ¿foi crescer mais moderadamente e com equilíbrio para não ter ponto de estrangulamento¿, e que o Brasil teve de levar em conta a oferta de energia.

Mas, quando era presidente do BNDES, Guido Mantega negava qualquer problema com a oferta de energia e não se cansava de denunciar a taxa de juros como o principal fator de um crescimento pífio. Somente agora, diante dos acontecimentos na Argentina, teve a idéia de justificar um menor crescimento do PIB, como estratégia, para não ter de enfrentar um racionamento de energia.

Essa mudança de visão tem explicações: hoje já se pode contar com um crescimento maior em razão dos investimentos realizados pelo setor privado, que poderá ser acelerado se o governo conseguir levar adiante o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que até agora sofre um grande atraso.

Na Comissão do Congresso, o ministro apresentou os resultados do que chamou ¿um novo modelo de desenvolvimento¿. Destacou a baixa vulnerabilidade externa que se deve essencialmente à apreciação do real e que contribuiu também para uma inflação baixa; anunciou que o Brasil está no rumo do déficit nominal zero, esquecendo-se de explicar que isso será conseqüência de dois fatores - redução da taxa Selic, mas, sobretudo, forte aumento da arrecadação. Fator que deveria ter levado as autoridades fazendárias a reduzir uma carga tributária que, em parte, favorece as importações, mas representa um freio para a exportação de bens de grande valor agregado. O governo não pôde aproveitar essa oportunidade, pois insiste em aumentar seus gastos correntes e em não realizar as reformas estruturais capazes de diminuir as despesas inadiáveis.

Para o ministro, a redução das taxas de juros é um dos instrumentos da retomada do crescimento. O gráfico por ele apresentado não conseguiu, porém, disfarçar os efeitos negativos da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de fixar em 4,5% a meta da inflação, enquanto a maioria do CMN era favorável a uma redução para 4%, a partir de 2009. O fato é que a economia brasileira só vai bem em razão de um quadro mundial extremamente favorável e que deveria ter sido aproveitado para tornar o País menos vulnerável a uma mudança.