Título: Especialista defende a profissionalização
Autor: Brandt, Ricardo e Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2007, Nacional, p. A4

Para professor da UnB, amadorismo torna mais fácil aos políticos acomodar apadrinhados.

A administração pública no Brasil precisa ser profissionalizada e não há, por parte dos governantes, preocupação em montar uma gestão verdadeiramente eficiente. A afirmação é do professor de Administração Pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias Pereira, especialista em funcionalismo.

¿O número de cargos comissionados ocupados por pessoas que não são de carreira mostra que há todo um processo de arranjo e de ajuste de interesses políticos¿, afirma. ¿A administração pública não é cabide de empregos, tem papel extremamente relevante no desenvolvimento do País. Quando se desenvolvem mecanismos para enfraquecer essa administração, afeta-se o próprio desenvolvimento¿, argumenta Pereira. Para ele, servidores de carreira ¿têm um compromisso¿ porque ao deixar o cargo continuam no sistema e precisam prestar contas de tudo que fizeram. ¿O comissionado chega de pára-quedas e, quando o padrinho político sai, ele sai junto e deixa um vazio do ponto de vista do compromisso com o objetivo da administração pública.¿

¿Se uma administração pública é pouco profissional, sem plano de carreira, sem treinamento, fica muito mais fácil para o governante acomodar seus apadrinhados.¿

Pereira defende que mudanças na forma de conduzir a administração pública no Brasil são tão importantes quanto as reformas política e tributária.

Os especialistas afirmam que não há um tamanho ideal para a máquina administrativa. ¿O problema não é a quantidade e sim a qualidade desses servidores e a forma como é feita a gestão da administração¿, diz Pereira. ¿Vejo ministros falarem em choque de gestão. Choque de gestão se dá quando se tem administração pública com pessoas competentes para fazer com que a máquina responda.¿

O economista Nélson Marconi afirma que, em geral, as administrações públicas podem funcionar com até 30% a menos de funcionários. Ele desenvolveu um método para calcular a necessidade de servidores em função do volume de trabalho, do tempo de execução da tarefa, da jornada de trabalho, da meta de desempenho.

Contratado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), Marconi e técnicos da Secretaria de Planejamento e Gestão desenvolveram a metodologia que, segundo ele, poderá ser usada em órgãos das administrações federal, estaduais e municipais. R.B.