Título: Bancos médios vão dar mais crédito
Autor: Sobral, Isabel
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2007, Economia, p. B3

Cinco bancos reforçaram o caixa com a venda de R$ 3 bi em ações na Bolsa.

A onda de abertura de capital entre os bancos de médio porte deve se traduzir em mais crédito para o consumidor brasileiro. Nos últimos meses, cinco instituições estrearam na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e captaram quase R$ 3 bilhões no mercado. Outros quatro bancos aguardam análise da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fazer IPO, sigla em inglês da oferta inicial pública de ações.

O efeito desse movimento é que as instituições ficam mais capitalizadas e ávidas para converter esse volume de dinheiro em lucro. O caminho mas fácil, como já vem sendo verificado nos grandes bancos, é a ampliação da carteira de crédito, cujo crescimento tem ficado acima de 20% ao ano.

O analista da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, afirma que o lançamento de ações elevou o capital dos bancos e, conseqüentemente, turbinou a capacidade de conceder crédito.

Levantamento feito pelo analista mostra que o índice de adequação do capital (o chamado índice de Basiléia) - conceito internacional que, no Brasil, recomenda a relação mínima de 11% entre o patrimônio de líquido e os ativos - aumentou com a abertura de capital, o que amplia a capacidade de crédito dos bancos.

Em alguns casos, o indicador foi multiplicado por mais de quatro com a abertura de capital, como é o caso do Paraná Banco, cujo índice subiu de 20,4% para 95% (ver quadro). No Banco Pine, o indicador avançou de 19,2% para 33,5% e no Sofisa, de 22,9% para 37,2%. Isso ocorre porque a captação elevou o patrimônio líquido dessas instituições e também melhorou consideravelmente sua posição no ranking nacional. 'Ao ter mais patrimônio, eles podem emprestar mais', diz Santacreu.

Esse maior poder de fogo deve incentivar muitos bancos a entrar em novos mercados. O vice-presidente do Banco Sofisa, Gilberto Meiches, destaca, por exemplo, que uma das apostas é o financiamento de veículos. 'Nosso objetivo é aproveitar esse bom momento do mercado, reforçar o crédito para empresas de porte médio e aumentar as operações ao consumidor', afirmou.

O banco retomou no ano passado as operações de financiamento de veículos, paralisadas em 2001 por causa do momento econômico. 'Agora, com a abertura de capital e com o mercado mais ativo, temos mais espaço para fazer novas atividades', disse o executivo. Ele diz que é difícil concorrer com os gigantes do setor financeiro, como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, mas avalia que as instituições de médio porte têm o diferencial de se adaptar às necessidades dos clientes.

Na avaliação do analista do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), Marcel de Marco, apesar do crescimento acelerado do crédito, o mercado brasileiro ainda é muito carente de empréstimos e financiamentos.

Hoje a relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) está em torno de 31% e deve chegar a 34% no final do ano. Portanto, qualquer aumento de crédito é bem-vindo. Por isso, diz ele, os bancos médios estão fazendo captações para não perder o bonde. 'Neste momento, com elevada liquidez internacional e investidores com dinheiro para aplicar, o IPO é a melhor alternativa para se capitalizar.'

De acordo com dados da CVM, aguardam autorização para fazer o lançamento de ações no mercado os bancos Bonsucesso, Indusval, ABC Brasil e Patagônia. Na opinião do analista da Lopes Filho, João Augusto Sales, um dos fatores que explicam esse boom de abertura de capital dos bancos médios é a entrada das grandes instituições no crédito consignado. Antes essa modalidade era dominada pelos bancos de menor porte.

'Durante algum tempo, os gigantes do setor financeiro não deram importância ao crédito consignado. Mas tiveram de se curvar ao surpreendente sucesso da modalidade, reforçaram suas equipes e tomaram parte considerável do mercado dos bancos médios.' Hoje, completa ele, essas instituições menores estão tendo de encontrar alternativas lucrativas para conseguir se manter no jogo e não ser engolidas pelos grandes bancos.

MÉDIOS CHEGAM À BOLSA

Banco Pine: estreou na bolsa de valores em 2 de abril, captando um total de R$ 517,1 milhões com a venda de papéis primários (novos) e secundários (em poder dos sócios)

Sofisa: no início de maio, o banco captou R$ 438,7 milhões com uma oferta primária e secundária

Paraná Banco: com IPO feito há um mês, arrecadou R$ 846,7 milhões

Cruzeiro do Sul: Chegou à bolsa em 27 de junho e captou R$ 644 milhões. Fez a maior emissão entre os bancos médios até agora

Daycoval: captou R$ 950 milhões em junho, com a venda de ações preferenciais

Bonsucesso: aguarda análise da CVM para fazer IPO. Deve fazer emissões primária e secundária

Indusval: quer levantar R$ 230 milhões com IPO no dia 12

ABC Brasil: pretende captar R$ 608,5 milhões com oferta de ações preferenciais

Patagônia: banco quer levantar R$ 522 milhões com IPOs nas bolsas de valores brasileira, argentina e americana