Título: Franco teme contágio dos bancos
Autor: Pinheiro,Vinícius., Xavier,Luciana e Campo, Sueli
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2007, Economia, p. B4

Para ex-presidente do BC, as autoridades deverão agir se a crise comprometer o capital dos depositantes

A atual crise no segmento de crédito imobiliário subprime nos Estados Unidos não deve ter maiores conseqüências se ficar restrita aos hedge funds, avaliou o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, sócio da Rio Bravo Investimentos. 'Se os problemas de liquidez não atingirem os bancos, a vida segue.'

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Ele evitou comentar a decisão do Banco Central Europeu (BCE) e do Federal Reserve de injetar recursos para aliviar a falta de liquidez em seus mercados. Mas considerou que, em momentos de crise, muitos ativos de boa qualidade acabam sofrendo por conta da indisposição momentânea dos investidores.

Para o economista, as autoridades reguladoras deverão tomar providências se a crise comprometer o capital dos depositantes das instituições financeiras. Ele defendeu maior controle sobre as operações dos fundos hedge.

Franco, que ontem participou do 4º Seminário Anbid de Direito do Mercado de Capitais, comparou a última crise 'verdadeira' no mercado - a quebra do hedge fund LTCM, em 1998, que levou o risco País a bater os 2000 pontos - com a turbulência atual, que levou o indicador a pouco mais de 200 pontos. 'Felizmente, a melhora na qualidade da gestão da política econômica nos últimos anos agora nos protege', afirmou.

Para o diretor da Ágora Corretora, Álvaro Bandeira, o Brasil poderá sentir mais fortemente a crise do subprime caso ela se espalhe e se agrave. 'O Brasil não é uma ilha e vai sofrer todos os efeitos da crise que não é nossa', afirmou,

Bandeira disse, no entanto, que, por enquanto, mantém a sua estimativas para a economia do País. 'Ainda não dá para dizer que os fundamentos serão alterados', observou. Ele mantém a previsão de que a Bovespa atingirá 62 mil pontos até o fim do ano.

'As empresas continuam muito capitalizadas', Justificou. Segundo ele, em caso de agravamento da crise, os setores da bolsa com 'boas proteções' são o de consumo interno, instituições financeiras, comércio e energia elétrica.

A Ágora também manteve as projeções de crescimento do PIB brasileiro de 4,8% ou 5% este ano, embora Bandeira admita que ainda poderá rever a projeção de PIB americano em 2,2% em 2007. Para ele, a tendência de valorização do real está mantida. Ele projeta o dólar em R$ 1,85 até o fim do ano.

Em relação aos juros no Brasil, Bandeira acredita que ainda há espaço para outro corte de 0,50 ponto porcentual em setembro, embora isso dependa do andamento da economia global, em meio às turbulências no mercados. Para ele, o que autorizaria manter o atual ritmo de corte seria o comportamento da inflação. 'O IPCA (julho) deixa isso claro', afirmou.

Para o diretor de Investment Banking do Credit Suisse, José Olympio Pereira, é cedo para avaliar o impacto dos problemas nos Estados Unidos. 'Existe muito alarmismo e gente dizendo que estamos numa crise, mas o que existe até agora é uma enorme volatilidade.'

Pereira disse que o Brasil não deve ser afetado pela turbulência e destacou que os fundamentos brasileiros nunca foram tão positivos. 'Nós e a maioria dos emergentes fizemos a lição de casa depois das crises nos anos 1990.'

Segundo ele, o episódio do subprime não deve mudar a perspectiva de que o País alcance o grau de investimento. Mas reconhece que o prolongamento da volatilidade afetará a intenção das empresas de captar recursos no mercado.