Título: Para Lula, FHC foi 'insensível' a projeto do álcool
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2007, Economia, p. B7

Na Jamaica, o presidente afirmou que a gestão anterior tratava os empresários do setor como marginais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) de se mostrar 'insensível' à retomada do projeto de produção de álcool combustível no fim dos anos 90 e de tratar os empresários do setor sucroalcooleiro como 'marginais'. Em discurso a empresários brasileiros e jamaicanos em Kingston, na Jamaica, Lula explicou a história do projeto e elogiou a decisão 'extremamente acertada' do ex-presidente general Ernesto Geisel de apostar no Proálcool, nos anos 70.

Disse ainda que, na sua administração, os empresários do setor tornaram-se 'personalidades internacionais', ressaltando para a primeira-ministra da Jamaica, Portia Simpson Miller, a política de bicombustíveis incentivada por seu governo.

'Os empresários sabem que eram tratados como marginais. O governo tinha vergonha deles', afirmou Lula, dizendo que a administração de Fernando Henrique havia recusado as propostas do PT de renovação da frota de automóveis com veículos a álcool e de substituição de carros oficiais também por esses modelos, que poderiam ter antecipado a nova onda dos biocombustíveis. Na platéia, um dos principais executivos do setor considerou acertada a avaliação de Lula sobre a insensibilidade da era FHC em relação à política do álcool. Mas ponderou que, em vez de tratados como marginais, eram recebidos com 'desdém'.

Em São Paulo, ao ser questionado pelo Estado, FHC comentou as declarações de Lula: 'De álcool, ele entende mais que eu e agora chegou à apoteose'.

Durante o encerramento do Fórum de Negócios sobre Etanol e Biodiesel, Lula ainda defendeu que a política do biocombustível não seja regida a partir da lógica da União Européia, onde a economia e a sociedade não necessitam da produção de álcool como um meio de impulsionar o desenvolvimento sustentável e a erradicação da fome e da pobreza, mas conforme a visão da África. Aos europeus, insistiu, caberia a função de consumir o etanol e o biodiesel fabricado em países em desenvolvimento e, assim, compensar o mundo por suas emissões de poluentes na atmosfera.

'Eles já estão com a casa arrumada, tomam café-da-manhã, almoçam e jantam todos os dias e têm renda per capita de US$ 25 mil a US$ 30 mil', sustentou. 'Quem deve comprar os biocombustíveis? Eles, que são os maiores poluidores do planeta.'

Em seu improviso, Lula parecia enfrentar o desafio de convencer a platéia a apostar na disseminação da produção e do consumo do álcool. A audiência, entretanto, havia comprado essa idéia há anos, como ele mesmo verificou, ao inaugurar uma usina de transformação de álcool hidratado brasileiro em álcool anidro.

A Jamaica tem três unidades de conversão de etanol e aprovou lei que obrigará a adoção da mistura de 10% do álcool na gasolina a partir de 2008.

FRASES

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente

'No governo FHC, empresários do setor sucroalcooleiro eram tratados como marginais'

Fernando Henrique Cardoso Ex-presidente

'De álcool, ele entende mais que eu'