Título: Empresa investigada pela CVM é ligada ao grupo Safra
Autor: Pamplona,Nicola., Ciarelli,Mônica e Auller,Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2007, Negócios, p. B15

A uruguaia Vailly S.A. é representada no Brasil por executivos do Safra

Um dos investidores citados no processo que investiga o uso de informações privilegiadas na compra de ações da Suzano Petroquímica, a empresa uruguaia Vailly S.A., é ligada ao grupo Safra. Com sede em Montevidéu, a Vailly é representada no Brasil pelos executivos Marcelo Curti, diretor da J.Safra CVC Ltda, e João Inácio Puga, da diretoria do grupo Safra. A Vailly tem participação acionária em pelo menos três grandes empresas brasileiras: Amazônia Celular, Bardella e Transmissão Paulista S.A.

Na terça-feira à noite, a Justiça Federal bloqueou o ganho de R$ 1,5 milhão obtido por dois investidores na Bolsa de Valores. O lucro foi conseguido pela compra de ações da Suzano na véspera da operação de aquisição da empresa pela Petrobrás. Segundo a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), há indícios que os dois investidores operaram com informações privilegiadas sobre a transação.

O processo corre em segredo de Justiça. A presidente da CVM, Maria Helena Santana, não confirmou nem negou os nomes dos suspeitos divulgados pela imprensa.'A divulgação (dos nomes) só prejudica a investigação e não é justo, numa situação em que só há indícios, e não condenação', afirmou Maria Helena.

Segundo um fac-símile publicado ontem pelo jornal O Globo, os investidores que tiveram recursos bloqueados são a Vailly e o operador da Bolsa Antônio Carlos Reissmann, que seria da TopTrade e atuava como gestor autônomo por intermédio da Fator Corretora.

Reissmann não foi localizado pela reportagem do Estado. Na Toptrade, a informação era que as dúvidas sobre o executivo deveriam ser encaminhadas à Fator. A corretora alega que apenas cedia espaço físico para as operações do gestor. A Vailly tem escritório no edifício World Trade Center de Montevidéu, o mesmo onde está baseada a IFE Safra Uruguai, empresa do grupo Safra com atuação naquele país, paraíso fiscal reconhecido pelo sigilo sobre as operações das empresas que sedia.

Dados do Ministério da Fazenda mostram que a Vailly tem três CNPJs no Brasil. Dois deles, abertos em 2003, indicam como procuradores no País os executivos do grupo Safra Marcelo Curti e João Inácio Puga. O terceiro, aberto em 2002 e suspenso em 2005, tinha como razão social o nome Vailly S.A Banco Safra.

Em pelo menos duas ocasiões, a Vailly defendeu a mesma posição de empresas do Safra em assembléias de acionistas das companhias nas quais tem participação. Em abril, votou com a Letero Empreendimentos, Publicidade e Participações, controladora do Safra, para eleger representantes nos conselhos de administração e fiscal da Bardella. As duas companhias foram representadas pelo mesmo advogado e colocaram nos cargos dois executivos do Safra. Em assembléia da TIM Participações, em 2005, Vailly e Safra National Bank New York se abstiveram de votar para presidente da empresa.

O Estado procurou a assessoria do grupo Safra para esclarecer as relações com a Vailly, mas não obteve resposta. Já o executivo João Inácio Puga não foi encontrado em seu escritório no banco. Não há ainda informações de como a Vailly e Reissmann teriam obtido antecipadamente as informações sobre o fechamento do negócio entre Petrobrás e Suzano.

Com mais de 13 subsidiárias ou coligadas, o grupo Safra passou recentemente por uma mudança no controle familiar, com a separação dos irmãos Joseph e Moyse Safra. Moyse deixou o grupo e entregou sua parte ao irmão, que, segundo cálculos do mercado financeiro, embolsou cerca de R$ 5 bilhões.