Título: Mercado quer unir teles sem dar poder ao governo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2007, Negócios, p. B16

Críticas à proposta do ministro Hélio Costa são mais em relação à forma que ao conteúdo

A proposta anunciada na semana passada pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, de criar uma grande operadora nacional de telecomunicações, pela união da Oi (antiga Telemar) e da Brasil Telecom, vem sendo bombardeada pelos empresários. O que incomoda, no entanto, não é a fusão em si, mas o momento em que ela foi anunciada e o poder que o governo teria sobre a nova empresa.

Hoje, as regras do setor impedem a união entre concessionárias de telefonia fixa, que são a Oi, a Brasil Telecom, a Telefônica e a Embratel. O que as empresas querem é uma mudança de regras, sem limite ao capital estrangeiro, em que o governo participaria como investidor, permanecendo afastado da administração. Como acontece hoje na Oi, onde o BNDES é o maior acionista individual, com 25% de participação, mas o grupo de controle é formado por um grupo de empresas privadas nacionais.

'A fusão deve acontecer cedo ou tarde', afirma o analista Julio Puschel, da consultoria The Yankee Group. 'Faz bastante sentido e torna o ativo muito atraente para outro investidor.' Já faz algum tempo que executivos da Oi e da Brasil Telecom expressam publicamente o desejo de unir as companhias.

O mal-estar provocado pelo anúncio de Costa foi causado, em primeiro lugar, pelo momento. A Oi encontra-se num processo de compra de ações preferenciais, e a fala do ministro cria turbulências. A operação simplifica a estrutura acionária da companhia, o que facilitaria a fusão. Em segundo lugar, pela proposta da golden share, que afasta investidores e cria uma ferramenta para o governo influir na gestão.

Na quarta-feira, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, defendeu que não haja impedimento para participação de investidores estrangeiros nas fusões entre concessionárias. A Telefônica é espanhola e a Embratel pertence ao grupo mexicano Telmex. Os dois grupos têm interesse em ampliar a presença no Brasil. Na terça-feira, o presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Antônio Carlos Valente, disse que a empresa quer ter o direito de avaliar as oportunidades.

Segundo um acionista da Telemar, não há consenso a respeito de possível fusão com a Brasil Telecom. Alguns acionistas defendiam, inicialmente, a compra da Brasil Telecom, o que permitiria que suas participações dentro da empresa aumentassem. Outros defendem uma fusão, com a entrada da Portugal Telecom e a formação de um novo bloco de controle acionário.

Uma incógnita seria a participação dos fundos no processo. Há duas versões. Numa delas, os fundos simplificariam a estrutura societária da Brasil Telecom e a preparariam para a venda. Uma outra versão dá conta de que os fundos defenderiam a fusão e ficariam com grande peso na companhia resultante da união dos dois grupos.