Título: Para técnicos, reduzir pista é medida inócua
Autor: Moreira, Beth e Gobetti, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2007, Metrópole, p. C3

Técnicos em aviação consideram desnecessário encurtar a pista principal do Aeroporto de Congonhas para a criação de uma área de escape. Embora a medida não inviabilize a operação dos aviões de médio porte - como os Airbus A320 e os Boeing 737-800 -, há alternativas mais eficazes para aumentar a segurança do aeroporto, palco da tragédia do vôo 3054 da TAM. O mais usual é o ¿sistema de contenção de aeronaves¿, que requer apenas 200 metros área livre.

O conceito por trás desse sistema é muito simples. Primeiro, constrói-se uma espécie de piscina com diferentes níveis crescentes de profundidade. Em seguida, ela é preenchida por concreto poroso, que faz os trens de pouso ¿atolarem¿, freando o avião. ¿Esse material pode ser instalado na área de stop way (área de segurança vizinha às cabeceiras) de Congonhas, sem que se tenha de encurtar a pista¿, afirma o diretor de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins.

Consultor em sistemas aeronáuticos, Eno Siewerdt também criticou a proposta da Infraero. ¿Numa pista curta como a de Congonhas, criar apenas uma área de escape não muda nada. Pode ajudar a frenagem de alguns aviões, mas não evita acidentes como o da TAM, que varou a pista em alta velocidade¿, diz Siewerdt. ¿É uma decisão de leigos.¿

Desde 2002, o Anexo 14 da Organização Internacional de Aviação Civil (Icao, na sigla em inglês) recomenda a criação de áreas de escape nos aeroportos de todo o mundo. Entretanto, autoridades regionais de aviação dizem ser difícil seguir a recomendação em aeroportos mais antigos, como é o caso de Congonhas. Apesar disso, a maioria dos grandes aeroportos dos Estados Unidos - como o JFK, em Nova York, e o Midway, em Chicago - já conseguiram se adequar à legislação.