Título: IPT vê falha de consórcio em buraco
Autor: Soares, Alexssander e Reina, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2007, Metrópole, p. C8

Instituto, que fará laudo sobre causas do acidente, informou que a Rua dos Pinheiros deveria ter sido fechada antes

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apontou falha do Consórcio Via Amarela, responsável pelas obras da Linha 4 do Metrô (Luz-Vila Sônia), ao não ter fechado preventivamente o trecho da Rua dos Pinheiros para o trabalho de escavação do shield (conhecido como tatuzão). O geólogo Wilson Iyomasa, indicado pelo IPT para fazer um laudo ao Ministério Público Estadual sobre as causas do buraco que surgiu entre as Ruas Fradique Coutinho e Mateus Grou, afirma que ¿o certo seria ter fechado antes o trecho da rua, principalmente quando o shield escavava a apenas 13,5 metros de profundidade em um terreno ruim, com uma camada de 12 metros de solo arenoso e meio mole¿.

¿O shield consegue avançar 15 metros por dia. Portanto, seria mais prudente fechar o trecho da rua em que ele operava mais próximo da superfície por dois ou três dias do que correr o risco da abertura de um buraco na região¿, disse. Iyomasa, que vistoriou ontem o local, lembra que a operação do shield nesse tipo de terreno ¿ruim¿ é pioneira no País.

Engenheiros do Via Amarela utilizaram ontem um equipamento chamado georradar para avaliar as condições do terreno. Embora não tenham admitido a existência de novas bolhas, eles aplicaram cimento em vários pontos da Rua dos Pinheiros para consolidar o subsolo.

O geólogo ressalta que a abertura do buraco ocorreu quando o shield operava o mais próximo possível da superfície, quando a máquina se aproxima da estação a ser construída. ¿Mas não existe risco de o buraco avançar ou de novos incidentes no local.¿

O shield, que está parado a 20 metros da futura Estação Fradique Coutinho, seguia no sentido da Estação Oscar Freire. ¿No fim da Rua dos Pinheiros, próximo da Avenida Brasil, o shield volta a operar a 20 metros de profundidade sem o menor risco¿, diz Iyomasa.

INTERDIÇÃO

O trecho entre as Ruas Mourato Coelho e Mateus Grou ficará interditado até terça-feira. Até lá, o tatuzão fica parado e o consórcio segue injetando calda de cimento no solo para tapar possíveis áreas vazias.

O diretor de contrato da Via Amarela, Márcio Pellegrini, disse que o consórcio fez um trabalho preventivo na área. Mas afirmou ser impossível prever com exatidão a localização de áreas vazias. ¿Em nenhum lugar do mundo existe um mapeamento 100% seguro. Sempre que se detecta alguma anomalia, se intervém.¿ Segundo ele, o consórcio foi ¿pego de surpresa¿ com o incidente. A assessoria do Via Amarela informou que na região há galerias pluviais antigas, que poderiam causar erosões por conta de vazamentos.

SOLO RUIM

O solo da região é constituído de areia e argila siltosas (soltas). De acordo com o engenheiro Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia (IE), esse tipo de solo mole pode erodir quando molhado e criar os espaços ocos que se transformam em buracos.

A primeira camada do terreno é de argila e solo orgânico de, no mínimo, um metro. Em seguida, há uma camada entre 7 e 8 metros de areia. Abaixo há um maciço rochoso e muitas rochas fragmentadas. Kochen alerta que podem surgir novos buracos, pelo menos até o trecho próximo à Avenida Brasil. Mas ele descarta risco às construções no entorno, pois o shield trabalha a cerca de 10 a 15 metros de profundidade de prédios e casas.

PREJUÍZOS

Há três dias, Paulo Fernandes, de 40 anos, não tem o que fazer - só atender aos telefonemas dos clientes de sua mecânica de carros, bem em frente ao buraco. ¿Eu digo que é seguro vir para cá, mas eles não acreditam.¿ É a mesma situação de Alair Ferrari, de 42 anos, dona de uma loja de materiais para acabamento bem no meio da área interditada. ¿Hoje (ontem) entrou um cliente na loja.¿

Os comerciantes dali temem que a interdição dure muito tempo. Eles não se esquecem do período em que a rua foi interditada para as obras do metrô, de julho de 2005 a julho do ano passado.