Título: Julgamento de Dirceu preocupa governo e partido
Autor: Oliveira, Clarissa e Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2007, Nacional, p. A10

O governo e o antigo Campo Majoritário do PT estão preocupados com a volta da agenda negativa do mensalão, com o julgamento do ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu. E acreditam que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que vai avaliar se aceita a denúncia do mensalão, vai contaminar o 3.º Congresso do partido, do dia 31 ao dia 2 de setembro, acirrando a disputa entre as tendências petistas e expondo o governo.

No momento em que o mapa da correlação de forças no PT indica que o antigo Campo Majoritário recuperou fôlego depois da crise , o julgamento dos 40 acusados de envolvimento no mensalão causa constrangimento. Apesar da tentativa de Dirceu de exibir apoios de peso para pressionar o STF a absolvê-lo, o governo avalia que será difícil ele escapar e quer se descolar dessa agenda de crise. Na lista dos petistas que serão julgados estão ainda os deputados José Genoino (SP), ex-presidente do PT, e João Paulo Cunha (SP).

O STF reservou três sessões seguidas, dias 22, 23 e 24, para analisar a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que acusa Dirceu de ser o chefe de 'organização criminosa' instalada no governo para desviar recursos. Mas no próprio STF ministros já admitem que a leitura do relatório de Joaquim Barbosa, com 380 páginas, pode consumir mais tempo.

'É evidente que esse julgamento, na mesma época do Congresso do PT, causará impacto e tende a contaminar o debate sobre os rumos do partido', afirmou ontem Francisco Campos, da comissão organizadora do Congresso. 'Esperamos que facções do PT não se aproveitem disso para fazer a luta interna, até porque a defesa do partido também pressupõe a defesa de nossas principais lideranças.'

O recado, na prática, é para o grupo capitaneado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que ainda pede comissão de ética para os acusados. 'A reconstrução do PT é uma necessidade', tem dito Tarso. 'O PT terá de discutir a leveza com que tratou a questão da ética nos últimos anos e mudar o seu estilo de direção.'