Título: Com novos fósseis, evolução é revista
Autor: Orsi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2007, Vida&, p. A19

Peças localizadas no Quênia há 7 anos retiram o 'Homo habilis' da árvore genealógica do homem moderno

Duas espécies que, acreditava-se, estavam entre os ancestrais diretos do homem moderno foram, na verdade, irmãs, não mãe e filha. Uma delas - o Homo habilis - possivelmente não está na linha evolutiva que leva à humanidade atual. As conclusões, apresentadas na revista Nature, procedem da análise de dois fósseis descobertos em 2000 no Quênia. Trata-se de um pedaço de mandíbula de Homo habilis e de um crânio preservado de Homo erectus, datados de 1,44 milhão e 1,55 milhão de anos atrás, respectivamente.

Leia reportagem completa

A descoberta mostra que as duas espécies conviveram numa mesma área por um período de vários milhares de anos, o que contradiz a hipótese de que o H. habilis teria sido ancestral do H. erectus. Assim, uma dessas duas espécies tem de deixar a linha dos ancestrais diretos do homem. 'Em princípio, tem de ser o Homo habilis que vai embora', disse o principal autor do artigo que descreve a descoberta, Fred Spoor, do University College London.

Com isso, o Homo erectus passa a ser a mais antiga forma conhecida na linha do gênero homo que chega ao Homo sapiens - a espécie humana. Segundo Spoor , habilis e erectus 'provavelmente vêm de um ancestral comum, ainda desconhecido', que teria vivido entre 2 milhões e 3 milhões de anos atrás.

Spoor, que continua em campo no Quênia e falou ao estadao.com.br por telefone, comparou a situação à do homem de Neandertal, que já foi considerado ancestral do homem moderno, antes da descoberta de que, na verdade, representava um ramo paralelo na evolução. 'As duas espécies provavelmente se evitavam', disse, descrevendo as condições de coexistência entre habilis e erectus. 'Como chimpanzés e gorilas da atualidade, que ocupam territórios próximos, mas não gostam de entrar em contato.'

Ele diz que as duas formas ocupavam nichos ecológicos diferentes, com dietas distintas. 'O Homo erectus era mais sofisticado', com uma dieta variada que possivelmente incluía carne de caça, enquanto o habilis tinha hábitos mais vegetarianos.

Outro ponto considerado 'surpreendente' por Spoor nos fósseis é o tamanho diminuto do crânio de Homo erectus em comparação com outros fósseis da mesma espécie. Provavelmente, o exemplar analisado pertencia a uma fêmea e o pequeno tamanho sugere um forte dimorfismo sexual, ou seja, uma grande diferença física entre machos e fêmeas.