Título: TCU vai investigar oferta da Petrobrás pela Suzano
Autor: Brito, Agnaldo e Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2007, Negócios, p. B14

Se for confirmada a suspeita que o preço é alto demais, o tribunal pode bloquear o negócio

O plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) determinou ontem à tarde a abertura de uma investigação sobre a oferta feita pela Petrobrás para a compra da Suzano Petroquímica. A investigação será concentrada nos estudos que sustentaram a decisão da estatal de fazer uma oferta de R$ 2,7 bilhões pelos ativos da Suzano, considerada muito alta por analistas do mercado financeiro.

A Petrobrás está sendo questionada também no Congresso. Ontem, a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados aprovou diferentes requerimentos para a realização da audiências públicas para discutir a compra da Suzano. Um deles, apresentado pelo deputado João Almeida (PSDB-BA), pede que a comissão convide Gabrielli. Almeida disse esta preocupado com a 'reestatização' do setor petroquímico. Outro requerimento, de Arnaldo Jardim (PPS-SP), cobra também a presença dos ministros Nelson Hubner (Minas e Energia) e Dilma Roussef (Casa Civil).

TCU

A investigação do TCU será concentrada na avaliação financeira da Suzano feita pelo banco ABN Amro para a Petrobrás. O responsável pelo pedido de apuração é o ministro Augusto Nardes, que acolheu um ofício expedido na tarde de terça-feira pela Secretaria Geral de Controle Externo do Tribunal.

Se for comprovado que a oferta está muito acima do valor de mercado, o tribunal pode tomar medidas como a retenção dos recursos, o que impediria a Petrobrás de liquidar a compra. O prazo para conclusão do negócio é de 60 dias.

A oferta da Petrobrás é de R$ 4,1 bilhões - incluindo a assunção de dívidas - é três vezes maior que o valor de mercado, calculado a partir da cotação das ações preferenciais. No dia anterior à oferta, a empresa valia na Bolsa R$ 1,292 bilhão. Alguns analistas apontavam que o preço de uma oferta poderia chegar a R$ 1,5 bilhão, ainda assim muito abaixo do preço final.

Neste cenário, as ações da Suzano valeriam entre R$ 6,60 e R$ 6,80. Para o fechamento do negócio, a Petrobrás fez uma oferta de R$ 13,44 pelas ações ordinárias (ON) e R$ 10,76 pelas preferenciais. Outro indicador apontado pelos especialistas foi o múltiplo calculado entre a oferta e a geração de caixa (Ebtida). A oferta marcou um novo patamar. A Suzano foi comprada pelo equivalente a 11,4 vezes a geração de caixa. Há dois meses, o Ipiranga foi vendido para a própria Petrobrás, junto com a Braskem e o Ultra, por 6,2 vezes.

BRASKEM

A Braskem disse ontem, durante apresentação do balanço trimestral, que considera alto o valor oferecido pela Suzano. Mas a Braskem tem outras preocupações. Neste semana, a companhia vai se reunir com a Petrobrás para cobrar uma posição 'mais clara' sobre qual será o papel da estatal na petroquímica da região Sudeste. 'Queremos uma posição clara e objetiva. Não entendemos ainda claramente qual é a posição da Petrobrás até o momento', diz José Carlos Grubisich, presidente da Braskem.

A decisão da Petrobrás de articular a integração dos ativos petroquímicos no Sudeste é correta, diz Grubisich, mas a preocupação está no fato de o ciclo não ser completado. A oferta por um preço alto é um complicador. A integração do pólo requer que a Unipar exerça os direitos de preferência nas centrais Petroquímica União (PQU) e Rio Polímeros (Riopol). O valor pago pela Petrobrás não é o mesmo que a Unipar se dispôs a pagar.