Título: Ex-candidato a deputado da BA é suspeito em ONGs de fachada
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2007, Nacional, p. A11

A auditoria sobre falsas ONGs que o Ministério da Educação entregou ao Ministério Público Federal aponta o ex-candidato a deputado estadual Francisco Airton Félix Junior como o homem por trás de quatro entidades de fachada na Bahia. Coordenador da Educar.com, ele teria ajudado a montar a Associação de Inclusão Social da Bahia (Aisba), a Associação de Desenvolvimento dos Jovens da Bahia (ADJB) e a Força Jovem da Bahia. Segundo a auditoria, as quatro não têm sedes regulares nem turmas funcionando, apesar de ter convênios com o Programa Brasil Alfabetizado.

A auditoria começou a ser feita em julho, depois que reportagens do Jornal da Tarde e do Estado revelaram irregularidades no Brasil Alfabetizado. O ministério bloqueou recursos que estavam nas contas das ONGs. A investigação apontou nove com indícios graves de fraude: as quatro, a Fundação Humanidade Amiga, a Fundação Movimento Cultural de Camaçari e a Fundação Cultural Ca e Ba, na Bahia, e em São Paulo o Centro de Educação Cultura e Integração de São Paulo (Ciesp) e o Núcleo Cultural Direito ao Saber.

Francisco Airton nega irregularidades e critica o MEC. ¿Liguei lá e me disseram que não havia problema nenhum¿, afirma. ¿Temos um trabalho sério, reconhecido em todo o Estado. Os auditores estiveram na Educar, viram as turmas. Não há como dizer que elas não existem.¿

Segundo ele, o ministério deve dinheiro às ONGs, só começou os repasses em abril, quando as turmas funcionavam desde janeiro, e os bloqueou em julho, com a auditoria. Na conta da Educar foram bloqueados mais de R$ 500 mil. ¿Se fôssemos desviar, por que o dinheiro ia estar na conta?¿ Quanto às outras três ONGs, diz que ajudou a montar seus programas de alfabetização porque tem experiência na área, mas garante que não integra suas diretorias.

O Estado procurou as três ONGs. Os telefones que aparecem no Mapa do Brasil Alfabetizado, do ministério, não existem nos casos da ADJB e da Aisba. O da Força Jovem da Bahia é o celular de Vitor Alexandre Gantois dos Santos, que se disse surpreso com a auditoria. Primeiro ele afirmou que a ONG já existia, depois que era nova na área de alfabetização e, na terceira vez, que assumiu recentemente a coordenação e pediu a ajuda de Francisco Airton.

O advogado das quatro, Marcos Ferraz, diz que a irregularidade na Aisba era só o fato de não ter comunicado o novo endereço. Mas a transferência para Santa Inês já consta do portal do MEC, com o telefone inexistente. As demais não teriam trocado de endereço. Segundo Ferraz, as ONGs entraram com mandado de segurança para receber o dinheiro bloqueado.

Em Salvador, na entrada da sala 705 do Edifício Bráulio Xavier, sede da Fundação Movimento Cultural, um papel na porta informa: ¿Estamos trabalhando internamente.¿ Não ali. Segundo um vizinho, há mais de uma semana ninguém aparece no local. E ninguém atende à porta quando se bate.

Já o presidente da Fundação Cultural Ca e Ba, Wilson Oliveira Bizerra, repetiu que a acusação é absurda. ¿Trabalhamos feito loucos há 12 anos, sem ajuda do poder público, e na primeira vez que conseguimos verba federal acontece isso? Preferia que o dinheiro não tivesse vindo.¿