Título: Com Sarkozy, política externa ganha novo rumo
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2007, Internacional, p. A13

Governo rejeita postura da gestão de Jacques Chirac e tenta redefinir relações com países do Oriente Médio.

Se havia algo aprovado por aclamação pelos franceses no governo do antecessor de Nicolas Sarkozy, Jacques Chirac, este tema era a política externa. Voz dissonante entre os presidentes e primeiros-ministros dos países mais desenvolvidos do mundo após os atentados de 11 de setembro de 2001, Chirac contrariou George W. Bush e se recusou a apoiar a ofensiva militar norte-americana no Iraque - empreendida pela Grã-Bretanha, Espanha, Itália e Polônia, vizinhos de peso na União Européia. Os erros estratégicos dos Estados Unidos no Oriente Médio acabaram dando razão à moderação de Chirac.

Mas em menos de 100 dias de governo Nicolas Sarkozy mostra-se disposto a redefinir as redes de relações de seu país com o mundo. Depois de tomar a dianteira na negociação do ¿minitratado europeu¿ e de restabelecer laços cordiais com os EUA, o presidente francês quer refundar sua relação com a África e com o Oriente Médio.

Há duas convicções estratégicas no projeto de União Mediterrânea: a primeira é de que, mesmo no mundo globalizado, as trocas comerciais internacionais tendem a se fortalecer entre vizinhos. O paradigma é o Japão, cuja economia extrai da China, Coréia do Sul e demais ¿tigres asiáticos¿, Austrália e Nova Zelândia 80% dos resultados de sua balança comercial. A segunda, que a Europa, sozinha (ainda que unida), não será capaz de sustentar o nível de desenvolvimento de seus países nos próximos 40 anos se continuar envelhecendo e crescendo nos atuais níveis.

Maior PIB e potência militar do grupo mediterrâneo, a França exerceria a liderança natural na União Mediterrânea - e sem dividir o poder, como ocorre em relação à Alemanha e à Grã-Bretanha na UE. Também encaminharia uma solução parcial para a situação da Turquia, até agora fora do bloco europeu. Além disso, Sarkozy participaria dos processos de decisão dos países da África árabe, de onde provém grande parte dos imigrantes ilegais que se radicam na França e onde células do terrorismo internacional ligadas à Al-Qaeda estão se instalando. Por fim, Sarkozy passaria, ao longo de seu mandato, a influir na região mais tensa do planeta, o Oriente Médio - mesmo sem incluir, em um primeiro momento, o Estado palestino.