Título: 'É uma nova crise, não um espasmo'
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2007, Economia, p. B5

Para Paulo Nogueira Batista Júnior, situação é preocupante, mas a economia real do Brasil não deverá ser afetada

O representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior, disse ontem, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, que a atual instabilidade financeira tem contornos de nova crise, ¿e não de um espasmo temporário¿. Ele defendeu a continuidade da queda nos juros e da acumulação de reservas pelo Banco Central. A seguir, os principais pontos da audiência e da entrevista coletiva após a reunião.

CRISE

¿Estou pendendo para a idéia de nova crise e não de um espasmo temporário¿, disse, destacando que em períodos de crise são revelados novos problemas. O economista considera que, diferentemente das crises dos anos 90, com foco nos países emergentes, a atual tem origem no centro da economia mundial: os EUA. A situação é preocupante, mas a economia real do Brasil não necessariamente será afetada pois está mais forte do que nos anos 1990.

JUROS

¿ O juro real ainda é alto no Brasil e há espaço para reduzi-lo mais. Se o BC reduz o juro, pode aliviar a dívida e o custo de carregamento das reservas (que é a diferença entre o juro interno, pago pelo governo, e o internacional, que remunera as reservas)¿, disse. Apesar das quedas recentes, o juro real ainda é alto e cerca de três vezes maior que a média dos principais mercados do mundo.

RESERVAS

É importante que o Brasil mantenha o processo de elevação das reservas internacionais. A melhora nesse indicador nos últimos anos é relevante, mas há espaço para avançar. Sem dizer qual seria o nível ideal, ele destacou que um indicador interessante é a relação das reservas com todo o passivo de curto prazo do País.

POLÍTICA CAMBIAL

O governo deve preservar o superávit em conta corrente (que registra todas as transações de bens, serviços e rendas do Brasil com o Exterior), evitando períodos prolongados de valorização cambial. ¿É preciso ter mecanismos de autodefesa, pois o mundo é perigoso e as instituições multilaterais são controladas pelos países desenvolvidos.¿ Apesar da maior solidez econômica, o Brasil não é invulnerável e está preparado para uma crise ¿moderada¿, podendo ter dificuldades em uma de maiores proporções.

VULNERABILIDADES

A vulnerabilidade principal da economia brasileira é a estrutura da dívida pública, que é relativamente de curto prazo e tem muita liquidez. ¿Em um momento de turbulência mais forte, com o movimento de saída de capital, os investidores trocariam facilmente títulos públicos por dólar, o que faria pressão enorme sobre o câmbio, levando ao uso das reservas internacionais, numa situação semelhante à de 2002.¿