Título: Voluntário brasileiro participa de resgate
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2007, Internacional, p. A14
Empresário, veterano de várias tragédias, ajuda a retirar corpos dos escombros.
Mais uma vez o empresário mato-grossense Sylas Silveira, de 62 anos, fez as malas e saiu correndo ao perceber que sua ajuda era necessária. Na sexta-feira, pegou um avião e voou para o Peru na esperança de conseguir resgatar sobreviventes dos escombros em alguma das cidades destruídas pelo terremoto de 8 graus na escala Richter que atingiu na quarta-feira o sul do Peru.
Sylas é conhecido em embaixadas como uma espécie de Dom Quixote brasileiro. Sempre que algum país é devastado por um terremoto ele se apresenta como voluntário para ajudar. Já foi para Argélia, Irã, Equador, Colômbia, México, Paquistão, Índia e Sri Lanka - este último após a passagem do devastador tsunami de dezembro de 2004.
Ao chegar ao Aeroporto de Lima, Sylas vestiu um colete da Cruz Vermelha do Rio Grande do Sul - onde vive há muitos anos - , conseguiu carona em um avião militar que levava uma equipe da Cruz Vermelha peruana para a cidade de Pisco, a mais afetada, e imediatamente começou a ajudar nas operações de resgate com suas cortadeiras. Retirou corpos no hospital da cidade, parcialmente destruído, e dos escombros da Igreja de San Clemente, onde pelo menos 250 pessoas foram soterradas quando assistiam a uma missa.
¿Muitas pessoas que viram meu trabalho me chamaram para retirar os corpos de seus parentes das casas¿, disse Sylas por telefone ao Estado. ¿Infelizmente, não consegui resgatar ninguém com vida¿, lamentou. ¿As construções eram muito frágeis, a maioria feita de barro, e as pessoas não tiveram chance¿, disse. Nas construções com ferro e concreto, há a possibilidade de as pessoas ficarem presas sob uma parede ou viga.
As máquinas que usa nos resgates são fabricadas na empresa que fundou em 1973 em São Jerônimo, a 64 quilômetros de Porto Alegre. Foi por causa dessas máquinas que suas aventuras começaram. Quando soube do terremoto no México, em 1985, Sylas decidiu doar três cortadeiras, mas percebeu que por causa da burocracia elas chegariam tarde demais. Resolveu entregá-las pessoalmente e acabou convencido por taxistas a trabalhar nos escombros.
Sylas criou um guia com orientações sobre como proceder em caso de terremoto e informações sobre primeiros socorros, que distribui nos intervalos dos trabalhos de resgate. E diz que gostaria que mais pessoas seguissem seu exemplo.
O mato-grossense elogiou o desempenho dos bombeiros de São Paulo no resgate das vítimas do desabamento do túnel do metrô, em março, e da queda do avião da TAM. Disse que ficou com vontade de ajudar, mas sabia que sua ajuda não seria tão necessária. ¿Vou para onde não há estrutura, onde realmente precisam de mim.¿