Título: Ministério dá R$ 26 mi ao setor de saúde de AL
Autor: Formenti, Lígia e Nogueira, Jãmarrí
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2007, Vida &, p. A20

Greves atingem mais Estados; mulher morre sem atendimento na Paraíba.

João Pessoa - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou ontem a liberação de R$ 26 milhões para o Estado de Alagoas, que enfrenta uma grave crise no sistema público de saúde. Desse dinheiro, R$ 23 milhões vão para pagamento de procedimentos de alta e média complexidade e os R$ 3 milhões restantes para gestão - parte poderá ser usada no pagamento de salários. ¿O dinheiro ajuda, mas não vai resolver a crise nem aumentar nosso poder de negociação com grevistas¿, avisou o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, logo depois de se reunir com o ministro.

Durante a greve, que completou ontem 84 dias, 245 médicos pediram demissão. Unidades de saúde estão fechadas, deixando sem atendimento quase 2 mil pessoas. Na sexta-feira, o governo de Alagoas decretou estado de emergência, o que permite contratações sem concurso. Profissionais de saúde reivindicam aumento salarial de 50%. O governo alega que só pode dar 5% de reajuste.

Na semana passada, um menino de 1 ano e 5 meses morreu ao deixar um posto de saúde no centro de Maceió. Ele não foi atendido porque não havia pediatra de plantão por causa da greve.

Na Paraíba, que também enfrenta greve no sistema público de saúde, uma mulher que não conseguiu realizar uma operação cardíaca morreu . O corpo de Elizângela de Lurdes Nonato de Souza, de 28 anos, foi enterrado ontem em um cemitério na Grande João Pessoa. Ela esperava uma cirurgia cardíaca havia três meses mas, por causa da greve dos cirurgiões, desde o dia 16, sua operação foi adiada.

Cirurgiões cardíacos do Estado reivindicam o reajuste da tabela do SUS. Com a paralisação, cerca de 500 pessoas estão na lista de espera para submeter-se a cirurgias. O Ministério Público deverá ingressar, ainda nesta semana, com uma ação civil pública contra a Secretaria de Saúde de João Pessoa, contra os hospitais particulares e contra os médicos grevistas. Elisângela era a primeira da lista de cirurgias pelo SUS. A família também pretende entrar com ação na Justiça. ¿Essa paralisação condenou minha irmã à morte¿, desabafou Ribamar Nonato, irmão de Elisângela.

¿Só três hospitais do Estado fazem as cirurgias cardiovasculares e os médicos estão se recusando a fazer essas cirurgias pelo SUS¿, disse o presidente da Associação Paraibana de Hospitais, Francisco Santiago. ¿Há uma demanda reprimida, uma lista da morte.¿ Segundo Santiago, a tabela de pagamento do SUS está defasada em até 120%.

GREVE E DIREITO À VIDA

Para o ministro Temporão, as greves na Saúde devem ser objeto de reflexão. ¿O justo direito de uma categoria profissional por reajuste de salário e melhores condições de trabalho não pode se sobrepor ao direito à vida¿, afirmou.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que mesmo que não haja ¿total acordo¿ com as centrais sindicais, o governo vai encaminhar ao Congresso projeto de lei que restringirá a greve no caso do serviço público federal. ¿Não queremos proibir greve. Queremos que tenham limites¿, disse o ministro. Paulo Bernardo afirmou que o governo encaminhará ¿em breve¿ o projeto de lei ao Congresso, mas não informou uma data.