Título: Planalto teme 'efeito dólar' na inflação
Autor: Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2007, Economia, p. B1
Preocupação é que desvalorização do real se torne forte e duradoura e tenha reflexos nos preços e nos juros
A possibilidade de uma 'forte e duradoura' desvalorização do real com impactos no aumento da inflação é o que mais preocupa o governo neste momento de alta volatilidade dos mercados financeiros. Esse é o único aspecto negativo da análise feita na reunião de coordenação política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sete ministros, pelo potencial que tem para interromper a trajetória de queda das taxas de juros. O governo está atento à volatilidade do dólar, mas o consenso é por um cenário positivo.
Na reunião, Lula e os ministros avaliaram que o crescimento econômico sustentado pelo mercado interno, as reservas cambiais de US$ 160 bilhões e uma diversificação do comércio exterior permitem ao País enfrentar com maior tranqüilidade a recente turbulência. Atualmente, é menor a dependência do mercado americano, na medida em que o País, nos últimos anos, elevou suas exportações à Europa, América do Sul e Ásia.
Nos cenários analisados pelo governo, o comportamento do câmbio - o dólar voltou a R$ 2,03 - entra como fator de cautela, segundo um ministro. A alta do dólar nos últimos dias ainda não provoca aumento dos preços no mercado interno e, conseqüentemente, dos índices de inflação. 'Estamos falando de desvalorização forte e duradoura do real', comentou. 'Não há a preocupação porque o dólar passou de R$ 1,90 para R$ 2,00. Não é disso que estamos falando.'
O que está por trás da preocupação do governo com a alta do dólar e o impacto na inflação é a possibilidade de o Banco Central interromper o processo de queda dos juros. Nos últimos meses, a diretoria do banco tem mantido o processo de queda permanente da taxa Selic.
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 4 e 5 de setembro e, até lá, muitos outros fatores serão considerados para definir a nova Selic, atualmente de 11,5 %. 'A nossa avaliação é que deve ser mantida a trajetória de queda. Mas o BC terá de avaliar a nova situação com base em outros dados ainda não disponíveis', comentou um assessor. A avaliação de técnicos da área econômica é que a recente subida do dólar não configura uma mudança de patamar.
O governo faz uma avaliação otimista e tem sustentado as análises nas conversas do ministro Mantega com interlocutores do governo dos Estados Unidos, como o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e do mercado financeiro. Ele reforçou o entendimento de que, até agora, não se configura o pior cenário. Ou seja, o comprometimento da economia real.
'Não há nenhum indicativo de que a crise esteja batendo mais forte no Brasil', resumiu um assessor. 'Estamos em melhores condições. Evidentemente, temos de acompanhar os desdobramentos da crise com atenção', ponderou um ministro.