Título: Petrobrás não chega a acordo com governo Evo
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2007, Economia, p. B12

Bolívia queria definir ontem novos investimentos de petroleiras no país.

A Petrobrás e a estatal boliviana YPFB não conseguiram chegar a um acordo sobre os planos de investimentos e acordos de entrega dos campos de petróleo e gás operados pela companhia no país vizinho. O governo da Bolívia esperava concluir ontem as negociações sobre novos aportes e termos comerciais com as petroleiras que operam no país e chegou a ameaçar com expulsão as empresas que descumprissem o prazo. Até o início da noite, porém, a Petrobrás não havia assinado os novos termos.

A companhia não comentou o assunto, limitando-se a informar que 'não há novidades' nas negociações com a Bolívia. Fontes da estatal brasileira e de outras empresas com operação na Bolívia avaliam, porém, que o governo Evo Morales não tem respaldo jurídico para expulsar petroleiras que descumpram o prazo, uma vez que os novos contratos de exploração e produção deixam dúvidas.

O contrato fala em um prazo de 180 dias após a declaração de comercialidade dos campos, explica um observador próximo. Mas os projetos da Petrobrás já passaram por essa etapa na virada da década, bem antes da assinatura dos contratos, em maio deste ano. Há uma interpretação de que o prazo só valeria para novas descobertas no país. A assessoria da YPFB informou que aguardaria a decisão das companhias até a meia-noite, sem esclarecer se a ameaça de expulsão estava mantida.

Ontem, executivos da YPFB se reuniram com representantes de outras companhias que atuam no país. Segundo uma fonte, a YPFB quer transferir às companhias todo o risco por interrupções no fornecimento aos clientes finais - Brasil, Argentina, térmica de Cuiabá e mercado interno. 'A YPFB é a comercializadora do gás. Não podemos assumir os riscos sozinhos', afirmou um executivo.

Os acordos determinarão ainda o destino do gás de cada campo, o que influencia diretamente a rentabilidade dos projetos: enquanto o mercado interno paga pouco mais de US$ 1 por milhão de BTU, as exportações para o Brasil rendem US$ 4. Para fazer valer o ultimato feito em público, o governo teria proposto às companhias que assinassem apenas uma minuta dos acordos, deixando pontos polêmicos para depois.

Estratégia semelhante foi adotada no ano passado, quando empresas e governo negociaram os novos contratos de exploração e produção. Segundo o diário local El Deber, pelo menos três empresas já estão negociando novos investimentos: a espanhola Repsol-YPF, a francesa Total e a britânica BP, que controla a Petrolera Chaco. O governo boliviano espera investimentos de US$ 3,4 bilhões nos próximos anos. A direção da Petrobrás já afirmou publicamente, porém, que pretende apenas manter os níveis de produção em suas concessões.

Os investimentos no setor de exploração e petróleo na Bolívia minguaram, segundo levantamento da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, entidade que representa as companhias estrangeiras com operações no País. De acordo com o estudo, os aportes caíram de US$ 600 milhões no fim da década passada para pouco mais de US$ 150 milhões este ano.

O número de poços petrolíferos perfurados no país caiu de 65 em 1999 para 9 no ano passado. Com a retração nos investimentos exploratórios e em novos poços de produção, o volume de gás extraído em campos bolivianos caiu 7% em 2006.