Título: Pequenas empresas têm mais fôlego
Autor: Aragão, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2007, Negócios, p. B19
Porcentual de empresas que sobrevivem por 2 anos ou mais saltou de 50,6% em 2002 para 78% em 2005, diz Sebrae.
As pequenas e microempresas (MPEs) estão sobrevivendo por mais tempo no Brasil. De acordo com uma pesquisa do Sebrae e do Vox Populi divulgada ontem, de cada 100 companhias de pequeno porte surgidas no País entre 2003 e 2005, apenas 22 fecharam as portas após dois anos de atividade. Há cinco anos, esse indicador - conhecido como taxa de mortalidade das empresas - era de 49,4%, de acordo com o estudo, que analisou 14.181 empresas ativas e extintas de todo o País. Em São Paulo, a taxa de mortalidade foi para 17,1% e, no Rio de Janeiro, caiu para 18,7%.
Segundo a consultora da unidade de gestão estratégica do Sebrae Nacional, Magaly Albuquerque, o novo índice de sobrevivência das MPEs brasileiras, de 78%, está acima de alguns países desenvolvidos. 'Na Itália, a taxa de sobrevivência é de 72,4% e em Portugal, de 72,6%.'
A estabilidade econômica está dando fôlego para que os empreendimentos ultrapassem a barreira dos primeiros anos. 'O ambiente econômico melhorou desde 2003 e as pequenas empresas são as primeiras a sentir os reflexos disso', diz Francisco Barone, coordenador do programa da Fundação Getúlio Vargas para pequenas e microempresas (Ebape/FGV).
Segundo Barone, o contexto da primeira pesquisa, que apontou a taxa de mortalidade de quase 50%, também motivou a diferença nos números. 'Naquela época (2000-2002), o Brasil vivia uma instabilidade econômica e o mundo recém saía de uma crise financeira.'
O acesso ao crédito, resultado da queda dos juros, é um dos principais efeitos das condições gerais da economia nos pequenos negócios, segundo ele. 'Crédito barato é sinônimo de capital de giro fácil para os pequenos.'
'O aspecto econômico ajudou muito', diz o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Mas, segundo ele, não foi o único motivo para o aumento da sobrevivência das MPEs. Para Okamotto, o microempresário brasileiro está buscando cada vez mais informações e se capacitando para gerir seu negócio. 'Uma das maiores causas da mortalidade era a falta de estratégia e planejamento.' De acordo com a pesquisa, o porcentual de empresários que buscaram assessoria para gerenciar suas empresas passou de 53%, em 2003, para 55%, em 2005.
O carioca Adriano Figueiredo faz parte do grupo de novos empreendedores que apostou em planejamento para enfrentar os primeiros e árduos anos de atividade. Antes de abrir sua empresa, a exportadora de produtos naturais Organic Life, ele fez uma pesquisa de mercado para escolher o produto que iria negociar. 'Descobri que o mercado de alimentos naturais e orgânicos era um ótimo nicho, que crescia a 25% nos últimos anos.'
Após a escolha do produto, Figueiredo partiu em busca de uma associação que pudesse fornecer a estrutura para o início das operações da empresa. Encontrou a incubadora da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), que ofereceu consultoria de pesquisadores e técnicos para o negócio. Por meio de uma linha de financiamento, a Organic Life também conseguiu participar da maior feira do setor de orgânicos, a Biofach, na Alemanha.
Nos últimos 12 meses, a empresa de Figueiredo faturou R$ 4,2 milhões, um crescimento de 597% em relação ao período anterior. O número de empregados também aumentou em 45% - hoje, são dez funcionários, além dos três sócios. 'Devemos repetir esse desempenho nos próximos 12 meses', avalia Figueiredo. Segundo ele, a evolução de seu negócio não seria tão rápida se tivesse encarado a empreitada sozinho.
Para o coordenador da FGV, Francisco Barone, apesar de importante, o investimento em gestão não é determinante. 'De nada adianta ser um bom gestor se há um cenário econômico desfavorável. Sozinho, o empresário não faz milagre.'
Segundo ele, a melhoria dos indicadores macroeconômicos foi o que mais influenciou a sobrevivência das MPEs. 'Com o céu de brigadeiro na economia, sobra mais tempo para eles se dedicarem.'
ESCOLARIDADE
A pesquisa também constatou elevação, ainda que tímida, no grau de escolaridade dos donos de empresas que ultrapassaram os dois anos de vida. No período entre 2003 e 2005, os empresários com curso superior incompleto correspondiam a 46% do total. Já entre os anos de 2000 e 2002, quando foi feito o último estudo, o porcentual passou para 49%. Os empreendedores com curso superior completo, por sua vez, passaram de 29%, na pesquisa anterior, para 30%, na atual.