Título: Meta dos tucanos é a renovação
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2007, Nacional, p. A11

PSDB prepara segundo congresso nacional de sua história, em setembro, quando aprovará novo programa.

Assustado com a inabalável popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contestado por suas próprias bases por sua performance como oposição, o PSDB está iniciando uma cruzada para mudar a ação, o conteúdo e a organização do partido. Tudo será consolidado em setembro, no segundo congresso nacional dos tucanos - o primeiro foi na fundação, há 19 anos -, no qual será aprovado o novo programa e conhecido o exato tamanho nacional do partido.

O PSDB ganhou duas das cinco eleições presidenciais que disputou, tem boas representações no Congresso, mas continua mal distribuído nos Estados, queixa-se seu presidente, o senador Tasso Jereissati: em oito deles não tem um deputado federal e em outros oito, tem apenas um. Uma recente pesquisa Ipsos apurou que para os brasileiros o PSDB (19%) é o partido 'que mais defende os ricos' e PT (44%) é o partido 'que mais defende os pobres'. 'Temos de falar com todas as classes', cobra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

'Hoje os partidos estão quase resumidos ao Congresso. Não pode ser assim, temos de ter representantes no cotidiano da vida', acentuou FHC, que aconselhou o PSDB a buscar um programa mais atualizado e, mais que tudo, a 'levantar crenças, valores, caminhos'. O que mais aflige o partido, no entanto, é que linguagem usar para fazer uma comunicação eficiente com o povo. A pesquisa Ipsos constatou que o PT (43%) é o partido que 'fala a linguagem que o povo entende'; nesse item, o PSDB teve apenas 4%.

SABER DEFENDER

Esta semana os tucanos fizeram um seminário em São Paulo para elencar temas de interesse da população. Dois grandes painéis com economistas ligados ao partido debateram pontos fracos e fortes do governo Lula e concluíram que os temas existem - falta saber defendê-los. O ex-ministro Pedro Malan lamentou que o partido, ao longo dos anos, não soube defender as privatizações do governo FHC, que mudaram a face do País. 'Hoje temos 100 milhões de celulares que beneficiam as pessoas, os negócios, e a gente não sabe exaltar isso', cobrou.

As primeiras discussões ainda não convenceram o partido sobre que direção tomar na preparação para o embate de 2010, passando pelas eleições municipais de 2008 - se priorizar as críticas a eventuais erros do governo Lula ou se centrar o foco nas suas propostas para resolver as grandes questões nacionais. Outra indefinição que atormenta o partido é que a maioria dos temas oportunos é complexa e tem apelo popular quase nulo.

Um exemplo típico é o modelo das agências reguladoras e os riscos que o Brasil corre com a desatenção do governo Lula ao setor, tema caro aos tucanos, mas difícil de explicar ao eleitorado.

Amanhã, em Belo Horizonte, o partido volta aos debates, centrando a discussão em outro tema complexo de explicar à população: Um Novo Modelo de Gestão Pública para o Brasil. Trata-se de uma área que interessa ao PSDB realçar, esclarece o deputado José Aníbal (SP), porque o forte dos tucanos, capaz de distingui-los do PT, é a capacidade gerencial: 'Basta ver as dificuldades de gestão que o governo Lula tem', observa Aníbal.