Título: De recuperando a funcionário
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2007, Vida &, p. A26

Maurício foi se tratar e hoje mora em fazenda nas Filipinas.

Karla e Maurício Bovo são missionários nas Filipinas. Venderam o pouco que tinham e partiram para trabalhar com as famílias de rapazes em recuperação na Fazenda da Esperança, na ilha de Masbate.

Os dois se conheceram em Garanhuns, interior de Pernambuco, onde Maurício dava continuidade a seu tratamento de desintoxicação, depois de passar três meses na unidade da fazenda em Guaratinguetá.

'Comecei a usar drogas cedo, antes dos 18 anos e perdi tudo - emprego, faculdade e amigos - quando trabalhava num banco, onde roubei para comprar bebida e cocaína', contou Maurício na quinta-feira, falando pelo telefone ao Estado.

Maurício tentou se submeter a tratamento em uma clínica em Pirassununga (SP), mas não deu certo. Passou a consumir crack, roubando dinheiro do irmão e salgadinhos da geladeira, para vender.

Por insistência da mãe, Maurício internou-se na Fazenda da Esperança de Guaratinguetá. A transferência para Garanhuns foi para que ele ficasse sob um regime mais apertado, longe de São Paulo. Maurício voltou a trabalhar, primeiro na fazenda e, depois, outra vez em um banco. Conquistou a amizade dos colegas e a confiança dos chefes. Mudou de vida.

Recuperado, começou a namorar Karla, que também se internou na Fazenda da Esperança, embora nunca tivesse usado drogas. Juntos, descobriram a vocação de missionários. Um dia, frei Hans Stapel lhe perguntou se não gostaria de ir para as Filipinas participar da fundação de mais uma fazenda. 'Fiquei muito tocado e conversei com a Karla e com minha família', disse Maurício, que topou o desafio.

PALESTRAS

Depois de seis meses nas Filipinas, o ex-drogado voltou para buscar a namorada. Casaram-se em Fortaleza e partiram para a missão. Numa viagem à Europa para fazer palestras sobre sua experiência, ganharam dos alemães uma casa na ilha de Masbate.

O primeiro filho do casal, André Luís, nasceu em fevereiro de 2005. Com dois anos e meio, já aprendeu português, inglês, o tagalog (idioma oficial das Filipinas) e um dialeto regional. O segundo filho, Ângelo, chegará em outubro. 'Coisa de Deus', como diz frei Hans.