Título: Ministros correm contra o tempo
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2007, Economia, p. B3
Lula fará novo balanço do PAC em setembro e todos querem mostrar serviço; iniciativa privada está pessimista.
O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, afirma que as obras da União e das empresas estatais estão num ritmo mais adiantado do que os números sugerem. Ele explicou que algumas construtoras estão concluindo trechos mais longos antes de apresentar sua fatura ao governo, por isso o gasto aparece na contabilidade menor do que efetivamente é.
'Vou gastar todo o dinheiro. Tenho certeza disso', garantiu. O presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor), José Alberto Pereira Ribeiro, discorda. 'Corremos o risco de chegar ao fim do ano com dinheiro sobrando no Orçamento', disse. 'A coisa não acontece por problemas de gestão e burocracia.' Nascimento disse a Lula que há muitas obras para serem vistoriadas e trechos a serem inaugurados. Segundo fontes no Planalto, foi esse comentário que levou o presidente, entusiasmado, a proclamar a transformação do Brasil num canteiro de obras a partir desta semana.
CABELO EM PÉ
A promessa do canteiro de obras acendeu sinais de alerta em toda a Esplanada dos Ministérios. Os ministros correm para apresentar resultados, principalmente porque um novo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) será apresentado em setembro. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, gerente do PAC, já está pressionando os colegas. 'O Lulinha disse aquilo e o pessoal ficou com o cabelo em pé - menos eu, que sou careca', brincou Paulo Bernardo, ministro do Planejamento.
Mal avaliado no primeiro balanço do PAC, em abril, o Ministério das Cidades quer aparecer melhor na foto de setembro. O titular da pasta, Márcio Fortes, explicou ao Estado que saiu em desvantagem em relação a seus colegas. Ministérios como o de Transportes e o de Minas e Energia já tinham alguns projetos prontos e verbas asseguradas. 'Meu orçamento era de R$ 67 milhões. Não dava nem para sanear em volta do meu ministério', disse. Por isso, enquanto as demais pastas tratavam de contratar as obras, a de Cidades ainda discutia verbas.
'Eles estavam fazendo amistosos e eu, escalando o time', comparou. 'Não dá nem para falar em atraso, porque nem cronograma eu tinha.' Com R$ 2 bilhões em seu orçamento, mais R$ 12 bilhões disponíveis na Caixa Econômica Federal para financiar prefeituras e governos estaduais, Fortes garante que o desempenho de sua pasta está melhor. Da parcela que não é financiamento, o projeto mais vistoso do Ministério das Cidades é um programa de melhoria urbana nas favelas cariocas. Serão obras de saneamento, asfaltamento de ruas e construção de instalações de lazer, no total de R$ 1,4 bilhão.