Título: Lula diz que só quer 'destravar' o investimento
Autor: Rosa, Vera e Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2007, Economia, p. B8

Segundo ministros, presidente não quer nem a reestatização nem a privatização de empresas.

A volta do modelo econômico dos anos 70, com forte presença do Estado na economia, nem de longe faz parte dos planos do governo. Foi o que afirmou o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. 'Não existe uma política de aumentar a participação do Estado na economia', afirmou. 'Pelo contrário: o presidente Lula pediu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, um estudo sobre a abertura do capital da Infraero.' Ele acrescentou, ainda, que é desejo do governo aumentar sua presença na área social, e não na economia.

Em conversas recentes no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi taxativo: não defende nem a reestatização nem a privatização de empresas. Sua estratégia econômica é outra: 'destravar' o País por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e fazer Parcerias Público-Privadas (PPPs) neste segundo mandato.

Também o ministro Mantega tem dito a interlocutores que a investida da Petrobrás no setor de petroquímica, a participação de Furnas na construção das usinas do Rio Madeira e a prometida participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na fusão de Brasil Telecom e Telemar são eventos separados, motivados por razões diferentes.

A compra da Suzano pela Petrobrás foi classificada por Mantega como 'um negócio como outro qualquer', num setor que a iniciativa privada estava deixando de lado. Para Mares Guia, a estatal viu na compra da Suzano a oportunidade de aumentar um nicho de mercado.

A fusão entre as duas telefônicas é, segundo Mantega, um negócio privado. O governo, de acordo com ele, apenas teria expressado seu desejo de que a empresa resultante tenha maioria de capital nacional. Encarregado de articular e apoiar a operação, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem se recusado a comentá-la. 'As empresas ainda estão conversando.'

Já a possível participação de Furnas como sócia da empresa que vencer o leilão das usinas do Rio Madeira é algo desejado pelo próprio setor privado, segundo os dois ministros. Mares Guia disse que, se fosse empresário do setor de energia, também gostaria de ter Furnas como sócia por se tratar de uma companhia com credibilidade.

'Há vários empreendedores autônomos. Em vez de comprarem os megawatts de que necessitam por ano, fazem parcerias e chamam a Cemig, a Copel e a Chesf para serem sócias minoritárias.' Para Mares Guia, os investimentos das estatais fazem parte de um 'movimento contemporâneo', focado na busca de eficiência e produtividade. 'Não há viés ideológico.'

O governo alega que essas sociedades de empresas estatais e privadas se devem ao momento econômico. 'Nas duas últimas décadas não houve aposta no crescimento. Achavam que o Brasil se bastava e ficamos trocando cebolas. Agora, com responsabilidade fiscal, metas de inflação, juros caindo e grandes investimentos em infra-estrutura conquistamos outro patamar', disse Mares Guia.