Título: Compra da Suzano dá mais fôlego à Petrobrás
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2007, Economia, p. B8

Operação mudou perspectiva de predomínio do capital privado na petroquímica nacional e levou apreensão a empresas que atuam no setor

A volta da Petrobrás à petroquímica significa a reestatização do setor? A bilionária indústria petroquímica, que fatura US$ 24 bilhões por ano, ainda hesita em ser tão categórica, mas não gostou nada do lance feito pela estatal para assumir o controle da Suzano Petroquímica, uma das mais importantes companhias do Sudeste do País. Deu indicações, segundo avaliações do setor, de que o tempo do domínio privado na cadeia do plástico pode ter chegado ao fim.

O negócio de R$ 2,7 bilhões,mais a assunção de uma dívida de R$ 1,4 bilhão, encheu os cofres da família Feffer e trouxe uma nova perspectiva da estatal no setor. A indústria petroquímica ficou 'apreensiva', já que sempre quis ter o Estado como 'parceiro minoritário', nunca como sócio mandante.

'A compra da Suzano rompeu um comportamento da estatal nos últimos anos, no qual indicava que retornaria ao setor petroquímico mediante parcerias com o setor privado, mas sem impor um controle estatal para os negócios. O comando ficaria com empresas privadas. Essa operação rompe esse comportamento', critica Carlos Mariani Bittencourt, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

O peso da Petrobrás no setor petroquímico nunca foi irrelevante, mas oscilou muito do governo militar até os dias de hoje. A estatal é a única fornecedora de matéria-prima para as centrais petroquímicas, seja a nafta (derivado obtido nas refinarias), seja o gás natural, recebido pela única central apta a processar o insumo no Brasil, a Rio Polímeros (Riopol), onde agora a Petrobrás manda. O custo do retorno já equivale a US$ 3,4 bilhões, somados os recursos para a compra da Ipiranga, em março, e da Suzano, há pouco mais de uma semana.

A Braskem, parceira da Petrobrás na compra dos ativos petroquímicos da Ipiranga, reagiu ao movimento da sócia. A empresa avalia que, dependendo da reorganização do setor na Região Sudeste iniciado a partir da compra da Suzano, poderá ter uma concorrente no seu conselho de administração. 'Seria uma companhia de US$ 10 bilhões (a Braskem) disputando com outra de US$ 100 bilhões (a Petrobrás). A Braskem não teria a menor chance', diz um executivo do setor petroquímico.

O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, anunciou que abriria conversas com a estatal. A empresa acha que, na formação da nova petroquímica, a Petrobrás precisa exercer o mesmo papel que assumiu na Braskem. 'Queremos uma posição clara e objetiva. Não entendemos claramente a posição da Petrobrás até o momento.'

Ainda há dúvidas se a ofensiva da Petrobrás tem de fato o objetivo de organizar a indústria brasileira em dois grandes grupos para enfrentar os competidores internacionais ou apenas responde a um plano estratégico da estatal de ter maior poder no setor petroquímico. Para Boris Gorentzvaig, um dos controladores da Petroquímica Triunfo, a compra da Suzano é a volta de 'uma visão ortodoxa e antiga de controle'. A Petrobrás deve esclarecer que peso quer ter no setor.