Título: 16% dos adolescentes bebem demais
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2007, Vida &, p. A17

Estudo inédito do consumo no País aponta que um terço dos brasileiros de 14 a 17 anos ingere bebida alcoólica.

Uma pesquisa inédita da Secretaria Nacional Antidrogas mostra que 16% dos adolescentes entre 14 e 17 anos já consumiram bebidas alcoólicas em excesso - ou seja, cinco doses ou mais ao longo de um dia. O trabalho, o mais completo sobre o consumo de álcool realizado no País, revela que 21% da população masculina nessa faixa etária bebeu de forma abusiva no ano anterior. Entre meninas a proporção foi menor, mas não menos preocupante: 11%.

Os dados comprovam ainda algo que especialistas alertam há tempos. A idade com que adolescentes iniciam o consumo de bebida está caindo e a freqüência, aumentando.

Realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Levantamento Nacional sobre Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira traz um retrato de como o brasileiro se comporta com relação à bebida. Feito entre 2005 e 2006, usou como base entrevistas em mais de uma centenas de municípios em todas as regiões do País. É o primeiro trabalho dessa dimensão. Até então, os dados oficiais eram baseados somente em projeções.

`BINGE¿

O estudo mostra que quase metade da população brasileira (48%) não bebe. Mas a legião de abstêmios não reduz a dimensão do problema: 28% dos adultos, o equivalente a 33 milhões de pessoas, apresentam um padrão de consumo excessivo. ¿É um número muito expressivo. E indica quantas pessoas se expuseram a situações de risco ou enfrentaram problemas provocados pelo consumo de álcool em excesso¿, constata a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte.

Além de quantificar a população que consome bebidas alcoólicas, os pesquisadores procuraram fazer uma análise da relação que as pessoas estabelecem com a bebida. Para isso, os entrevistados respondiam se, no ano anterior, haviam consumido, num pequeno espaço de tempo, grande quantidade de álcool - o que, segundo padrões internacionais, equivale a cinco doses para homens e quatro doses para mulheres ao longo de um dia. É o chamado beber em ¿binge¿ (algo como excesso em inglês).

Para Paulina, as conclusões vêm confirmar a importância da Política Nacional de Álcool, lançada em maio pelo governo. ¿O trabalho pode ajudar a nortear algumas ações de prevenção e combate ao abuso.¿

MAIS CEDO

Sobretudo entre adolescentes. O estudo mostra que entrevistados entre 14 e 17 anos iniciaram o consumo de bebida alcoólica aos 13,9 anos. Não foi necessário ir muito longe nas gerações para encontrar uma média de início de consumo mais elevada. Entre adultos jovens, com idade entre 18 e 24, o início foi aos 15,3 anos.

Paulina afirma que o consumo cada vez mais precoce de bebidas preocupa, mas não é exclusividade do Brasil. ¿É uma tendência mundial. Mesmo assim, existe a necessidade de aumentar os trabalhos de prevenção¿, completa.

Entre as ações previstas está a ênfase no aumento do diagnóstico precoce de pessoas que apresentam padrão problemático de consumo de bebida e a indicação de tratamento. Neste mês, a Unifesp acaba de treinar 5 mil profissionais de saúde, entre agentes comunitários, enfermeiros e médicos, para identificar pessoas que apresentam o problema.

¿A bebida passa a ter um lugar na vida dessas pessoas, interfere no relacionamento familiar, na vida profissional. Expõe a riscos, como a direção de automóvel sob efeito do álcool¿, explica Paulina. Para prevenção, também estão sendo capacitados professores. Cerca de 20 mil educadores estão sendo treinados também para alertar adolescentes sobre o risco do consumo excessivo da bebida.

O levantamento indica, por exemplo, que dois terços dos adultos entrevistados dirigiram depois de consumir três doses de álcool - acima do que é legalmente permitido. O estudo mostra também que padrões de consumo se modificam conforme a região e a faixa etária. Quanto mais jovem, maior o índice de relatos de beber em ¿binge¿ e menor a taxa de abstinência. Entre população mais velha, a abstinência cresce e o abuso de álcool se reduz.