Título: Para ONU, Brasil está entre mais vulneráveis
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2007, Economia, p. B3

Mas a situação é considerada melhor que nos anos 90.

A ONU alerta que o Brasil está entre os países vulneráveis à turbulência dos últimos dias no mercado financeiro e pode de fato sentir os impactos se o cenário for mantido. As conseqüências, porém, não serão tão profundas quanto as contaminações sofridas pelo País nos anos 90. Os economistas da entidade vão publicar no início de setembro seu levantamento sobre a situação internacional e apostarão em um crescimento da economia mundial para este ano de 3,4%.

No caso da economia brasileira, a ONU diz que o País está na lista da economias emergentes que mais sofreriam com a persistência de uma crise. 'Alguns países emergentes que estariam mais vulneráveis são Brasil e Turquia e os do leste europeu', afirmou Heiner Flassbeck, ex-vice ministro de Finanças da Alemanha e atualmente economista da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento.

'Os países emergentes podem ser afetados, especialmente diante de uma atitude do capital especulativo de reduzir sua exposição ao risco. No caso do Brasil, isso significa que investidores podem reduzir suas posições em relação ao real, moeda que vinha sendo procurada por meses como uma boa opção', afirmou Flassbeck.

Por enquanto, a previsão da ONU para o crescimento da economia latino-americana em 2007 é de 4,7%. Para os Estados Unidos, a projeção de é expansão de 2%.

Apesar dos alertas em relação ao Brasil, as Nações Unidas admitem que a situação do País é mais sólida que na década de 90. 'Hoje, vários países emergentes estão em condições mais adequadas para enfrentar situações de desequilíbrio. Isso não significa, porém, que as nações estejam isentas de qualquer impacto', disse o economia da ONU.

Para ele, um eventual aspecto positivo dessa menor exposição dos investidores ao real pode ser a maior competitividade para as exportações brasileiras diante de uma moeda menos valorizada. O problema é que essa tendência seria seguida por uma queda do consumo nos principais mercados, como os Estados Unidos, o que acabaria anulando os ganhos obtidos com o real.

Na semana passada, a Organização Mundial do Comércio (OMC) já havia alertado que os países com maior grau de dependência em relação ao mercado americano como destino de suas exportações podem sofrer uma queda no crescimento de suas vendas em 2008.

Para as Nações Unidas, a turbulência nas bolsas mundiais é, acima de tudo, uma clara demonstração de que os mercados financeiros internacionais precisam sofrer algum tipo de regulamentação para que não acabem afetando economias inteiras e contaminando países. A ONU defende a regulamentação, há pelo menos sete anos, como forma de garantir maior transparência nas operações.

'O que estamos vendo nos mercados é apenas a ponta de um iceberg. Os problemas são bem mais profundos e o risco de uma rápida contaminação existe', afirmou outro especialista da ONU, que pediu para manter o anonimato.

FRASES

Heiner Flassbeck Economista da ONU

'Os países emergentes podem ser afetados, especialmente diante de uma atitude do capital especulativo de reduzir sua exposição ao risco. No caso do Brasil, isso significa que investidores podem reduzir suas posições em relação ao real, moeda que vinha sendo procurada por meses como uma boa opção'

'Hoje, vários países emergentes estão em condições mais adequadas para enfrentar situações de desequilíbrio que na década de 90. Isso não significa, porém, que as nações estejam isentas de qualquer impacto'