Título: Embraer fecha a maior venda de aviões para uma empresa brasileira
Autor: Komatsu, Alberto e Moreira, Beth
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2007, Negócios, p. B15

Empresa assina contrato com a BRA para o fornecimento de até 75 jatos, em negócio que pode chegar a US$ 2,7 bi.

A Embraer assinou ontem com a BRA o seu maior contrato de venda de aviões para uma empresa brasileira. O pedido prevê a entrega de 20 jatos Embraer 195, de 100 lugares, com opção de compra de mais 55 aviões. No total, o acordo pode chegar a US$ 2,7 bilhões. O presidente da BRA, Humberto Folegatti, disse ainda que seu sonho é chegar a 100 aviões em cinco anos.

Apesar da assinatura do acordo - em evento em São José dos Campos (SP) que contou com a presença do presidente Lula -, a BRA não explicou como vai levantar o dinheiro para todas as aquisições. A empresa tentou um financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas, pelo menos por enquanto, o banco ficará fora da operação.

A empresa também não informou se o fundo Brazil Air Partners, que comprou 72% das ações preferenciais da empresa no ano passado por US$ 180 milhões, fará um novo aporte para a compra dos aviões. Entre os sócios do Brazil Air Partners estão o fundo de investimentos Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, e os bancos Goldman Sachs e Bank of America.

Segundo a BRA, os dois primeiros jatos deverão ser entregues a partir de fevereiro do ano que vem, por meio de um arrendamento financeiro (em que mensalidades abatem o valor final de compra) com a General Electric Commercial Aviation Services (Gecas).

Em entrevista coletiva após a assinatura do contrato, Folegatti disse também que a companhia tem intenção de abrir seu capital na Bolsa de Valores. Porém, não deu mais detalhes a esse respeito e também não informou o prazo em que a BRA pretende fazer sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). O executivo afirmou ainda que, apesar da crise aérea, confia no potencial do mercado brasileiro. 'Acreditamos no País e a empresa deve estar preparada para isso', disse.

Já o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, disse que o contrato celebrado com a BRA mostra qual é a receita para o mercado aéreo brasileiro: aviões menores atendendo cidades menores e desafogando o tronco aéreo nacional. 'O ministro Jobim (da Defesa) aprovou o espaçamento entre os assentos da aeronave', disse.

Segundo Curado, é bastante positivo para a empresa a venda de aviões para o mercado interno. 'Os aviões já estarão em operação em 2008 nos aeroportos brasileiros e farão toda a diferença.'

Até a assinatura do contrato com a BRA, a maior aquisição de jatos da Embraer havia sido protagonizada pela Varig, que chegou a meados de 2001 com uma frota de 15 aviões ERJ-145, de 50 lugares, nas subsidiárias Rio Sul e Nordeste. O primeiro avião desse porte foi entregue em 1997. Uma fonte do setor lembra que, àquela época, a Varig tinha o compromisso do governo de limitar o uso do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, para aviões com 50 lugares, como forma de estimular a utilização de aviões da Embraer.

Em 2001, no entanto, o governo abriu a utilização do Santos Dumont para aviões maiores. 'Um dia depois de a limitação para jatos de 50 passageiros cair, a TAM usou um Airbus e os Fokker-100. A Varig ficou com o mico', diz. Segundo essa fonte, quando os aviões foram devolvidos ao BNDES, a mensalidade do arrendamento de cada jato, de US$ 170 mil, era maior do que o aluguel de um Boeing 737-300 para cerca de 140 passageiros. Os jatos ERJ-145 da Varig foram posteriormente devolvidos ao BNDES, que os repassou para a Aeronáutica.

A TAM chegou a estudar, em 2001, a maior compra de jatos da história da Embraer feita por uma empresa aérea brasileira, mas o negócio, que envolvia 100 aviões e poderia chegar a US$ 3 bilhões, não vingou.

Muitas companhias aéreas regionais usam aviões da Embraer, mas em pequena quantidade. O principal em uso é o Brasília, um turboélice para 30 passageiros, apropriado para aeroportos de cidades médias e pequenas, que muitas vezes não têm pista pavimentada.