Título: Voto pró-tucano desgasta PT em São Paulo
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2007, Nacional, p. A15

Em nota, bancada diz que decisão de Pereira a favor de arquivar ação contra Bragato é ¿estritamente individual¿

O voto do deputado estadual Hamilton Pereira (PT) a favor do arquivamento das denúncias contra o tucano Mauro Bragato, anteontem, no Conselho de Ética da Assembléia Legislativa de São Paulo, provocou desconforto dentro da maior bancada de oposição da Casa, o PT. Preocupado com o impacto negativo que a decisão do deputado possa trazer ao discurso e à imagem da oposição, o PT decidiu condenar publicamente a medida tomada pelo conselho e pelo petista. O partido foi autor de uma das representações ao conselho pedindo apuração das suspeitas sobre Bragato.

Em nota, os petistas fizeram questão de destacar que a atitude do ¿deputado Hamilton Pereira, membro desta bancada, teve caráter estritamente individual¿ e não seguiu orientação da bancada, discutida em várias reuniões para que se ¿instaurasse procedimento investigatório para verificar eventual envolvimento do deputado¿.

Bragato é suspeito de ter recebido, entre 2003 e 2005, R$ 104 mil da empresa FT Construções, pivô de uma organização criminosa denunciada à Justiça sob acusação de fraude em licitações e superfaturamento de obras de casas populares da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) na região de Presidente Prudente, reduto eleitoral do deputado tucano.

Conforme o Estado noticiou, o ex-líder do PSDB na Assembléia é alvo de investigações no Ministério Público e no Tribunal de Justiça. Bragato nega participação no esquema.

Anteontem, entretanto, o Conselho de Ética, formado em sua maioria por deputados da base governista, arquivou o pedido de processo antes mesmo de fazer uma investigação. Pereira, único representante da oposição no colegiado, desconsiderou a orientação do PT e seguiu o voto dos governistas.

AUSÊNCIA

Ontem, o deputado petista não compareceu à reunião semanal da bancada, que deliberou sobre a divulgação da nota oficial de repúdio ao arquivamento do caso. Na avaliação do PT, Pereira poderia ter evitado a saia-justa para o partido se não proclamasse o seu voto. Como presidente do conselho, ele tem a prerrogativa de somente votar em caso de empate.

À tarde, encerrada a reunião do PT, Pereira usou a tribuna para expor os motivos do seu voto. Alegou que, antes de tomar sua decisão, procurou sua assessoria jurídica e pediu uma análise da documentação enviada pela Procuradoria-Geral à Assembléia sobre as denúncias. À noite, Pereira não reprovou a atitude do partido. ¿É natural, é um direito da bancada¿, afirmou.

Apesar do desgate, o PT não pretende punir o deputado. ¿Acho que precisamos dialogar. Só isso¿, afirmou o líder do PT, Simão Pedro. ¿Nossa posição não mudou. Protocolamos a representação para que houvesse investigação. Esperávamos que o conselho realizasse oitivas, procurasse os promotores. Não era para arquivar sem mesmo apurar¿, disse.