Título: Benazir faz proposta de divisão de poder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2007, Internacional, p. A21

Para ajudar Musharraf a ficar na presidência, ela quer voltar ao país e ao governo e exige que ele deixe chefia militar.

Washington - A ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto detalhou pela primeira vez um plano para manter o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, no cargo por meio de um acordo de divisão de poder que, segundo ela, fortaleceria a luta contra o terrorismo.

Musharraf tenta reeleger-se para outro mandato de cinco anos, mas enfrenta forte pressão para deixar o cargo de chefe do Exército e restaurar a democracia no Paquistão, oito anos após chegar ao poder em um golpe militar.

Em declarações à rede de TV americana PBS, Benazir descreveu um plano que reduziria o poder de Musharraf e permitiria que ela voltasse do exílio na Grã-Bretanha - e talvez retornasse também ao governo. ¿Não estamos tentando socorrer um ditador militar e retornar sob suas condições. O que estamos buscando é um acordo que possa ajudar a criar uma ordem civil, democrática e estável¿, disse Benazir. ¿Estamos negociando certas mudanças que darão mais poder ao Parlamento para combater os militantes¿, acrescentou.

Um acordo com Benazir ofereceria a Musharraf a oportunidade de afastar os desafios internos a seu governo e cumprir a promessa de combater a Al-Qaeda e o Taleban, algo visto com crescente ceticismo pelos EUA e por outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que têm soldados no Afeganistão.

Entretanto, Musharraf não deu nenhuma indicação de que fará as concessões exigidas por Benazir, entre elas a de deixar o posto de chefe do Exército.

Benazir disse que Musharraf tem de acabar com a proibição de que primeiros-ministros que já cumpriram dois mandatos possam voltar ao governo, como é o caso dela e do ex-premiê Nawaz Sharif, também no exílio. Benazir exigiu ainda que as acusações de corrupção contra ela e outros ex-funcionários sejam retiradas. Tanto Benazir como Sharif prometeram voltar ao Paquistão este ano, causando mais tensão política.

Benazir responsabilizou o governo, liderado por militares, pela disseminação do extremismo no Paquistão, mas evitou criticar Musharraf diretamente.

Às vésperas de uma nova audiência do Supremo sobre o pedido de Sharif para poder voltar ao Paquistão, advogados do governo entregaram ontem ao tribunal uma cópia do que eles disseram ser um documento assinado em 2003 pelo ex-premiê garantindo que ficaria longe do Paquistão por dez anos. Em troca, o governo o livraria de uma pena de prisão e permitiria que partisse para o exílio na Arábia Saudita (atualmente, o ex-premiê está em Londres).

O governo nega ter forçado Sharif a ir para o exílio e diz que, se ele voltar, será tratado ¿de acordo com a lei¿. Já Sharif nega ter feito qualquer acordo.