Título: Números confundem o ministro
Autor: Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2007, Economia, p. B4

Mantega se equivoca ao falar sobre investimento público

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, atrapalhou-se ontem ao comparar a taxa de investimento público atual com a dos anos 70. O ministro disse que o governo federal pretendia dobrar seus investimentos, chegando à meta de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa cerca de R$ 25 bilhões em 2007. Segundo ele, na época da ditadura esse valor chegou a ser 15 vezes maior.

¿Isso (1% do PIB) é muito pouco se for comparado com a época dos militares, quando o governo chegou a investir 15% do PIB no País. Mas já é um avanço¿, observou.

Na prática, o governo nunca chegou perto de investir uma soma equivalente a 15% do PIB. De acordo com as séries de dados disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o máximo que os governos (incluindo União, Estados e municípios) chegaram a investir nos últimos 37 anos foi 4,4% do PIB, em 1970. Se forem acrescidas as estatais federais, chega-se à marca máxima de 10,6% do PIB em 1976, no auge do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).

Essa taxa representa três vezes mais do que o valor investido pelo setor público no ano passado, segundo estimativas preliminares baseadas em dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e do Departamento de Coordenação e Governança das Estatais (Dest).

Pelos dados reunidos pelo Tesouro, os investimentos das três esferas de governo somaram R$ 44 bilhões em 2006, enquanto o das estatais, R$ 32,8 bilhões, incluindo os gastos no exterior. Isso representa cerca de 3,3% do PIB e é o melhor resultado desde 2002, quando chegou a 3,34%.

O governo federal é responsável por apenas 0,7% do PIB. É essa marca que Mantega fala em elevar para 1%, o que não ocorre há pelo menos 12 anos.