Título: 'Não há doença holandesa', diz Mantega
Autor: Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2007, Economia, p. B4

Para o ministro, o crescimento da produção industrial em junho mostra que os analistas estavam errados

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que os resultados da produção industrial em junho, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o País não sofre da doença holandesa (expansão seguida de contração), como avaliam alguns economistas. ¿Não há doença holandesa. A indústria está crescendo. Só se estiverem se referindo a algum tipo de doença bovina, como a aftosa¿, brincou.

A produção industrial cresceu 6,6% em junho, em relação ao mesmo mês de 2006, e 5,8% ante o segundo trimestre deste ano com o de 2006. ¿O dado mais relevante, na minha opinião, é o do segundo trimestre em relação ao anterior, que apresentou crescimento de 2,5%¿, disse ele. ¿Anualizado, trata-se de uma expansão de 10%, o que é extraordinário.¿

Para o ministro, com base nos dados da produção industrial, pode-se afirmar que o setor que mais cresce é o de bens de capital. ¿Há aumento de oferta e, portanto, cai o mito de que o crescimento eleva a inflação¿, disse, em resposta a economistas que se dizem preocupados com o fechamento do hiato do produto.

Segundo Mantega, não é apenas a base de consumo que está em expansão. ¿Tudo isso significa que o nosso crescimento é sólido e vem sendo feito com base nos investimentos. Não há nenhuma razão para a inflação subir, pois o crescimento é saudável e pode até levar à redução de preços no futuro¿, considerou.

CARGA TRIBUTÁRIA

Mantega disse que o Brasil tem hoje condições de enfrentar turbulências externas, como as da semana passada. ¿O Brasil tem US$ 156 bilhões em reservas para enfrentar o ataque da onça¿, brincou. Segundo ele, essa volatilidade internacional é comum ao capitalismo, mas hoje o Brasil não está mais com os indicadores econômicos desequilibrados. ¿Já dá para apostar no futuro do País¿, disse.

Segundo Mantega, o governo está fazendo esforços para que seus investimentos dobrem em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), passando de 0,5% para 1%. ¿Isso é muito pouco, comparado com a época dos militares, quando o governo chegou a investir 15% do PIB. Mas já é um avanço¿, considerou.

Para o ministro, esses investimentos devem ser alocados em segmentos que ainda não despertam tanto interesse do setor privado, caso do saneamento básico, de retorno no longo prazo. ¿Mas tudo o que puder ser investido em infra-estrutura pelo setor privado deve ser feito pelo setor privado.¿

Ele disse ainda que o governo tem intenção de reduzir a carga tributária, mas, em hipótese nenhuma, o objetivo é passar ao estágio de Estado mínimo. ¿Somos contra essa corrente, por isso foi criado o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)¿, salientou.

Mantega fez essas avaliações durante reunião com o grupo de trabalho da Reforma Tributária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), em São Paulo.