Título: EUA assustam Bolsas. De novo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2007, Economia, p. B13
Crise imobiliária e fraqueza do mercado de trabalho fazem Índice Dow Jones cair 2,09%; Bovespa perde 3,37%
As bolsas de valores mundiais tiveram ontem mais um dia de fortes quedas. O Índice Dow Jones perdeu 2,09% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 2,51%. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) despencou 3,37%. A sexta-feira no vermelho deveu-se principalmente a dois fatores, ambos relacionados à crise no setor imobiliário dos Estados Unidos.
O primeiro deles foi o relatório de emprego americano relativo a julho, que trouxe números mais fracos do que projetavam os analistas por causa das demissões na área de imóveis.
O segundo foi o anúncio da agência de classificação de risco Standard & Poor¿s de revisar de estável para negativa a perspectiva para os ratings (notas) do banco Bear Stearns, por conta de sua exposição ao mercado americano de hipotecas.
¿A perspectiva negativa reflete a nossa preocupação com os desdobramentos recentes e o potencial delas afetarem a performance do Bear Stearns por um período prolongado¿, justificou a analista de crédito da S&P, Diane Hinton. ¿Acreditamos que a reputação do Bear Stearns tem sofrido com a ampla publicidade de seus problemas na condução de seus fundos hedge, tornando a companhia alvo potencial de litígios por parte de investidores que computarem perdas substanciais¿, avaliou.
Ao menos dois fundos hedge (que aplicam em ativos arriscados) do Bear apresentaram problemas por terem em suas carteiras papéis atrelados a empréstimos concedidos ao setor de crédito imobiliário de segunda linha dos EUA (subprime). As ações do Bear Stearns despencaram 5,9% ontem.
O presidente financeiro do Bear Stearns, Sam Molinaro, tentou acalmar os investidores ao participar de um conference call com analistas. Ele garantiu que o banco tem liquidez suficiente para manter seus empréstimos e está guardando capital para superar as turbulências atuais nos mercados de crédito. ¿Estamos em um modo onde o caminho apropriado é preservar nosso capital e superar a tempestade¿, explicou.
Para Peter Kenny, diretor- gerente da Knight Equity Markets, avaliou negativamente as palavras de Molinaro. ¿Os comentários do Bear Stearns empurraram o mercado para o córner¿, disse, comparando a situação a uma luta de boxe. ¿As coisas estão ficando feias.¿
O payroll (sumário das condições do mercado de trabalho americano) de julho mostrou a criação de 92 mil vagas, abaixo dos 130 mil postos estimados pelos analistas. A taxa de desemprego subiu para 4,6%, contrariando a previsão de que ficaria estável em 4,5%.
¿De modo geral, esse dado não vai mudar as visões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mas vai ajudá-lo a ter uma visão de que o pior da pressão inflacionária está passando com aqueles últimos sinais vacilantes de redução na pressão de utilização de recursos¿, disse Alan Ruskin, estrategista-chefe internacional do RBS Greenwich Capital. A próxima reunião do Fed ocorre na próxima terça-feira.
Em Londres, o economista do Société Générale Brian Hilliard disse que o fraco payroll de julho não muda sua avaliação fundamental de que o mercado de mão-de-obra dos EUA segue forte, observando que o vigor da tendência de crescimento do emprego no setor privado.
NOVA VÍTIMA
O fundo de hedge Sowood Capital Management LP, informou ontem que possui agora apenas US$ 1,4 bilhão dos mais de US$ 3 bilhões em ativos que detinha no fim de junho. O criador do fundo, Jeff Larson, pediu desculpas aos investidores e afirmou que está desmontando as últimas posições do fundo para devolver o capital remanescente aos investidores o mais rapidamente possível.