Título: 'Petrobrás comprou Suzano para resolver impasse na petroquímica'
Autor: Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2007, Negócios, p. B20

Segundo presidente da Petrobrás, a Suzano era contra modelo tripartite para o pólo petroquímico do Sudeste.

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse ontem que a estatal comprou a Suzano Petroquímica, entre outros motivos, para resolver o impasse que havia entre a Suzano e a Unipar nas negociações para a consolidação do Pólo Petroquímico do Sudeste. Gabrielli explicou que a Suzano resistia à idéia de se adotar um modelo tripartite para administrar o pólo, no qual a gestão seria dividida entre Petrobrás, Unipar e Suzano. Segundo ele, a Suzano não abria mão de ter poder de veto nesse consórcio tripartite.

A informação foi confirmada pelo vice-presidente executivo e diretor de relações com investidores da Suzano Holding, Fabio Eduardo Spina, que participou junto com Gabrielli de audiência pública na Câmara dos Deputados para explicar o negócio. Segundo Spina, a fórmula tripartite não interessava à Suzano.

Gabrielli comentou que, tendo em vista o impasse, a Petrobrás resolveu 'dar o passo seguinte' e adquiriu a Suzano. Segundo o presidente da Petrobrás, optou-se pela compra da Suzano, e não da Unipar, porque a negociação, dessa forma, ficaria mais simples. O executivo explicou que, como o Grupo Suzano atua em outra área de negócios - a indústria de papel e celulose -, seria mais fácil comprar a Suzano Petroquímica do que a Unipar.

Durante a audiência pública, Gabrielli também rebateu as acusações de parlamentares de que o preço pago pelo controle da Suzano Petroquímica de R$ 2,7 bilhões tenha sido excessivo. 'Pagamos o preço adequado e justo', afirmou. Um dia antes de a oferta da Petrobrás ter sido anunciada, no entanto, o valor da Suzano na Bolsa de Valores era de R$ 1,29 bilhão.

Gabrielli reiterou que a estatal não tem pretensão de assumir o controle do setor petroquímico no Brasil. 'Nossa estratégia é de sermos minoritários relevantes no setor, tendo papel ativo na gestão, mas em associação com empresas privadas, que vão liderar a consolidação do setor', disse Gabrielli.

Segundo ele, a Petrobrás está atualmente negociando com a Unipar para fazer a consolidação do Pólo Petroquímico do Sudeste. A idéia, segundo ele, é que o setor privado tenha 60% do pólo e a Petrobrás, os outros 40%.

TENDÊNCIA

O presidente da Petrobrás afirmou ainda que a consolidação do setor petroquímico, com a participação de grandes empresas petroleiras, é uma tendência mundial.

'As petroleiras estão entrando fortemente na cadeia petroquímica', disse. Na avaliação dele, se o Brasil não promover a consolidação do setor petroquímico, poderá 'ficar para trás'. 'Não temos praticamente nenhuma integração entre o refino e a petroquímica. Se não avançarmos na integração e na consolidação do setor petroquímico, poderemos ser afogados pela petroquímica mundial', disse.

Além do pólo petroquímico do Sul, a Petrobrás também pretende consolidar os ativos petroquímicos da região Sul em uma só empresa. Nesse caso, o pólo seria liderado pela Braskem - que também já é a líder do pólo petroquímico do Nordeste. A Braskem defende que os ativos sejam consolidados na própria Braskem, com a Petrobrás ficando com uma participação de 20% a 25%.

O QUE ESTÁ EM JOGO

Pólo petroquímico do Sudeste: Petrobrás, Suzano e Unipar negociavam a participação de cada empresa em centrais de produção no Rio de Janeiro e em São Paulo. Suzano e Unipar falavam em ter a Petrobrás como sócia minoritária, como ocorreu com a Braskem no pólo petroquímico do Sul. Mas a estatal fez uma proposta bilionária pela Suzano.

Reestatização: A Braskem, maior empresa petroquímica do País e controladora do pólo petroquímico do Sul, chegou a reclamar do avanço da Petrobrás no Sudeste. Segundo a Braskem, a Petrobrás estaria tentando promover uma reestatização do setor. Com a compra da Suzano, a Petrobrás se tornaria o segundo maior grupo petroquímico do País.

Preço: O Tribunal de Contas da União investiga se o preço oferecido pela Petrobrás para a Suzano foi supervalorizado. A Petrobrás ofereceu R$ 4,1 bilhões, incluindo as dívidas, mais que o dobro do valor das ações da empresa na Bolsa de Valores