Título: As prioridades da Petrobrás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2007, Notas & Informações, p. A3

A Petrobrás anunciou, terça-feira, seu plano de negócios para o qüinqüênio 2008/2012, em que prevê investimentos de US$ 112,4 bilhões, muito acima dos US$ 87,1 bilhões orçados para o qüinqüênio 2007/2011. Dará prioridade aos investimentos em exploração, produção, refino e transporte de petróleo e gás, que receberão cerca de 85% dos recursos. O grosso dos investimentos - US$ 97,4 bilhões ou 87% - será feito no Brasil, destinando-se US$ 15 bilhões, ou 13%, ao exterior, um ponto porcentual a menos do que no plano de negócios anunciado há um ano.

No comunicado, distribuído aos acionistas, não há menção a novos investimentos na Bolívia. O plano também não mencionou o mirabolante projeto do Gasoduto do Sul, proposto pelo presidente da Venezuela. A Petrobrás, ao que tudo indica, decidiu se afastar de sócios problemáticos, como os presidentes Evo Morales e Hugo Chávez. Vítima de decisões arbitrárias do governo Morales, a empresa estatal investirá na Bolívia apenas o suficiente para assegurar a continuidade do fornecimento do gás natural que chega pelo Gasoduto Bolívia-Brasil, da ordem de 30 milhões de m³ por dia. Enquanto isso, a Bolívia já está se entendendo com a Argentina, que se encaminha para ocupar a posição do Brasil como principal investidor latino-americano em hidrocarbonetos no país vizinho.

Os investimentos previstos pela Petrobrás em exploração e produção são de US$ 65,1 bilhões, 32% mais do que no plano anterior. Metade do acréscimo em relação a 2006 se deve ao aumento de custos e a prejuízos com o câmbio. A estatal estima em US$ 10,9 bilhões o ônus adicional com equipamentos e serviços. Uma sonda pode demorar de 2 a 3 anos para ser entregue e custar o dobro do que foi previsto. E o impacto da valorização do real nas contas da estatal foi estimado em US$ 4,2 bilhões.

A área de refino, transporte e comercialização terá US$ 29,6 bilhões, 35% mais do que no plano anterior. Maiores investimentos em refinarias permitirão que a Petrobrás processe internamente o óleo bruto pesado extraído no País. Hoje, a falta de refinarias adequadas impõe que a Petrobrás exporte mais de 600 mil barris de óleo por dia, enquanto importa óleo leve, pagando US$ 10 a US$ 12 a mais do que recebe por barril de óleo pesado.

Os investimentos em gás e energia elétrica deverão ter decréscimo de 8%, caindo de US$ 7,3 bilhões para US$ 6,7 bilhões. A estatal parece pouco interessada nas usinas termoelétricas a gás natural, que provocaram prejuízos nos últimos anos. Para que não haja desabastecimento, a Petrobrás tem anunciado que importará Gás Natural Liquefeito (GNL) que será processado no País, reduzindo a dependência do gás boliviano. Já a petroquímica deverá receber investimentos de US$ 4,3 bilhões, 30% superiores aos do plano anterior.

Anunciado como programa prioritário do governo federal, o segmento de biocombustíveis terá investimentos de US$ 1,5 bilhão da estatal, apenas 25% mais do que o US$ 1,2 bilhão previsto no plano anterior.

A Petrobrás pretende aumentar a produção total, obtida no Brasil e no exterior, de 2,298 milhões de barris/dia, em 2006, para 3,494 milhões, em 2012, e 4,153 milhões de barris/dia, em 2015.

O total de US$ 112,4 bilhões a ser investido pela Petrobrás em cinco anos equivale a cerca da metade de todo o investimento que o Brasil faz em um ano. É um valor significativo, do ponto de vista macroeconômico.

Para financiá-lo, a estatal calcula que retirará US$ 104,4 bilhões da sua geração de caixa. Mas, como terá de amortizar dívidas de US$ 11,4 bilhões, precisará levantar US$ 19,4 bilhões em recursos de terceiros. Segundo o diretor-financeiro, Almir Barbassa, o dinheiro virá principalmente do mercado de capitais.

Os objetivos estratégicos da Petrobrás são ambiciosos: até 2020, a empresa pretende se tornar a quinta maior empresa integrada de energia do mundo, galgando três posições em relação ao oitavo lugar em que está agora.

Atingir esse objetivo será mais fácil com a rigorosa fixação de prioridades empresariais, sem interferências políticas.