Título: Planalto já teme freada no crescimento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2007, Economia, p. B1

A equipe econômica já avisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o período de instabilidade provocado pela turbulência internacional que afetou duramente os mercados nas últimas semanas pode ser longo.

A grande preocupação do Palácio do Planalto, agora, é com o impacto desse intenso vaivém sobre o crescimento econômico do País, principalmente a partir de 2008. Para este ano, os economistas consideram que a expansão já está consolidada e ficará na casa de 5%. Em caso de uma piora da situação, o governo estuda reduzir o ritmo de liberação de dinheiro para os ministérios. O excesso de arrecadação dos últimos meses permitiu acumular uma reserva de R$ 9 bilhões, que poderia ser liberada a conta-gotas até o fim do ano.

O epicentro do movimento, que para muitos já é uma crise financeira, está nos Estados Unidos. Isso significa que o consumismo desenfreado dos americanos, responsáveis por 20% da demanda da economia global (US$ 10 trilhões por ano), vai desacelerar, com reflexos no resto do planeta.

O maior temor é o de que esse desaquecimento interrompa o período de grande bonança global dos últimos anos. Os mais otimistas acreditam que as economias emergentes - especialmente os gigantes populacionais da Ásia e os BRICs (grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia e China) - passarão a ser os protagonistas do consumo mundial.

A maré positiva recente levou o mundo a crescer uma média de 5,2% nos últimos três anos, ritmo mais forte das últimas três décadas. Entre 2003 e 2005, o comércio internacional aumentou a uma média de 17,2% ao ano.

Os EUA são o maior destino de produtos feitos no Brasil. Por isso, o saldo comercial, que garantiu um forte fluxo de dólares para o País nos últimos anos, poderá ser afetado. Além disso, se a economia americana crescer muito menos, os efeitos sobre países como a China (que tem respondido pela maior parte do crescimento global) podem ser substanciais. Em caso de freada brusca da locomotiva mundial, os preços das commodities (petróleo, minério de ferro, soja, milho, etc) tendem a cair. E a maior parte do saldo comercial brasileiro deve-se justamente às vendas de commodities.

Analistas vêem aspectos positivos para o Brasil, que aproveitou bem a bonança dos últimos anos para acumular reservas internacionais - que já estão perto de US$ 160 bilhões.

Em entrevista ao Estado,o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, reconhece que há riscos para o País. ¿O Brasil, assim como os demais países, não ficaria imune a uma recessão grande da economia americana¿, disse. ¿A discussão é sobre se pegamos uma gripe forte ou uma gripe leve, ou, quem sabe, até podemos escapar com um pequeno resfriado.¿