Título: Exportadores mantêm fluxo de dólar positivo
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2007, Economia, p. B1

No segmento financeiro, saída de moeda estrangeira já supera ingresso em US$ 799 milhões.

Apesar da crise financeira, a entrada de moeda estrangeira no País vem se mantendo. Neste mês, até o dia 21, o fluxo estava positivo em US$ 6,118 bilhões. O resultado, entretanto, vem sendo sustentado apenas pela entrada de dólares dos exportadores. No segmento financeiro, a saída de recursos da Bolsa de Valores e dos investimentos em renda fixa superou o ingresso de capitais externos em US$ 799 milhões. Nos últimos seis meses, a entrada de capital vinha sendo alimentada tanto pelos exportadores como pelas transações financeiras.

A mudança na composição do fluxo resultou da crise nos mercados externos. 'Além de provocar a saída de capitais da Bolsa e da renda fixa, o aumento da volatilidade provocou uma interrupção da participação dos estrangeiros nas IPOs (oferta inicial de ações)', comentou um operador do mercado financeiro.

De janeiro a julho deste ano, os investimentos estrangeiros em IPO foram de US$ 12,528 bilhões, mais de quatro vezes os US$ 2,923 bilhões de igual período de 2006.

Apesar de admitir a queda dos investimentos externos em IPOs, o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes, destacou que a taxa de rolagem dos empréstimos externos se manteve acima dos 100% neste mês, até ontem. 'Tivemos uma contratação de novos empréstimos de US$ 1,174 bilhão ante vencimentos de US$ 242 milhões', disse. Para muitos analistas, a crise poderia inviabilizar a realização de novas operações de crédito por causa da elevação dos custos gerada pela crise externa. 'Por enquanto, a crise não afetou nada', disse Altamir.

O chefe do Depec explicou que a alta do dólar frente ao real, gerada pela crise, ajudou a alimentar o fluxo de dólares, ao estimular os exportadores a antecipar suas operações de câmbio. Em agosto, até o dia 21, os exportadores já tinham internado US$ 12,074 bilhões, enquanto a saída de moeda estrangeira pelos importadores estava em US$ 5,157 bilhões. Com base nesses dados, analistas do mercado já projetam um fluxo comercial positivo de US$ 9 bilhões neste mês.

Outra novidade trazida pela crise foi a interrupção das compras de dólares pelo BC. 'Sem a presença do BC, os dólares estão ficando nas mãos dos bancos', disse um gestor de fundos de investimento.

Em conseqüência, a posição de câmbio dos bancos passou de 'vendida' em US$ 2,740 bilhões, no fim de julho, para 'comprada' em US$ 1,328 bilhão, no último dia 21, o que não ocorria desde novembro do ano passado. 'Mas não é possível dizer que os bancos estão apostando numa alta continuada do dólar', disse o gestor de fundos de investimento.

Altamir Lopes, entretanto, preferiu atribuir a mudança na posição de câmbio dos bancos às medidas adotadas pelo BC no início de junho para limitar a exposição cambial das instituições e conter operações especulativas. A conclusão pode ser tirada, de acordo com Altamir, a partir da redução da dívida externa de curto prazo em US$ 1,859 bilhão, em julho.