Título: 'Saldo comercial pode cair até US$ 15 bi', diz Mantega
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2007, Economia, p. B3

Para o ministro, mesmo se esse cenário internacional pessimista se confirmar, Brasil ainda sairia no lucro.

A balança comercial e o fluxo de recursos externos são os dois pontos onde o Brasil poderá ser mais afetado pela crise financeira global, se ela se agravar. Foi o que admitiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao expor, para uma platéia de empresários, o cenário que considera mais pessimista para os próximos meses. Mas, ainda que esse quadro negativo se materialize, disse o ministro, a economia brasileira será pouco afetada e os efeitos sobre câmbio serão bastante fracos.

'Esse cenário pessimista não é o que eu considero mais provável', frisou o ministro, durante o seminário 'Obstáculos e Soluções para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura', promovido pela Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib).

Mantega expôs o quadro mais pessimista para ilustrar os possíveis efeitos da crise. Nessa hipótese, a crise levaria a uma retração das economias americana e chinesa. Como conseqüência, os preços das commodities exportadas pelo Brasil, que estão em alta há vários meses, cairia. O resultado seria a redução da receita com exportação e menor saldo comercial. 'O saldo comercial pode ser reduzido e criar um impulso para alguma valorização do real.'

Entretanto, avaliou Mantega, os danos para o Brasil não seriam grandes. 'Temos um saldo robusto, podemos perder de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões que continuaríamos no lucro', disse. Além disso, observou, a queda nas vendas de commodities poderia ser compensada com exportações de produtos manufaturados, que ganhariam competitividade com o dólar mais caro.

A crise poderia levar também à saída de dólares do País, admitiu o ministro. 'Se, na pior das hipóteses, o fluxo de capitais caísse para um terço do que é hoje, ainda teríamos um volume muito superior ao de 2006', comentou. De janeiro a junho deste ano, ingressaram no País US$ 59,5 bilhões, ante US$ 15 bilhões em igual período de 2006.

Mantega considerou remota a chance de todo esse dinheiro sair em busca de aplicações mais seguras porque a maior parte do capital não é especulativa. Do total recebido pelo País este ano, US$ 24 bilhões são investimentos diretos, na produção, com perspectiva de longo prazo. Outra parte foi para a compra de capital de empresas, que também são investimentos de longo prazo.

Por essas razões, o ministro avaliou que a crise não provocará a alta muito forte do dólar, mesmo no pior cenário. Ele observou que, no dia mais agudo da crise, a cotação chegou a R$ 2,12 e não se sustentou. Ontem, o dólar estava cotado por R$ 1,98.

O ministro afirmou aos empresários que o Brasil entrou em outro nível de crescimento econômico. Se o Produto Interno Bruto (PIB) do País crescer 4,7% este ano, algo que ele considera 'dado', a média de crescimento dos últimos quatro anos chegará a 4,3%. 'O PIB cresce há 21 trimestres consecutivos' disse ele. 'Não é uma bolha de crescimento, não é vôo de galinha.'