Título: A política invade a Petrobrás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2007, Notas & Informações, p. A3
Acirra-se a disputa política por cargos de direção da Petrobrás - numa virulência ¿jamais vista neste país¿. Nunca antes a administração da estatal correu tanto risco de perder qualidade com ingerências políticas. E, se esse tipo de ingerências já é inadmissível no preenchimento de cargos da administração pública, mais graves podem ser suas conseqüências numa empresa da complexidade da maior companhia brasileira.
A Petrobrás tem um presidente-executivo e seis diretores. Destes, três (eventualmente, quatro) poderão ser substituídos, segundo reportagem do Estado (28/8). Um deles, o professor da USP Ildo Sauer, é diretor da Área de Gás e Energia e vinha às turras com o governo desde o ano passado, prevendo-se sua substituição pela atual presidente da BR Distribuidora, Maria das Graças Foster, da ¿panelinha¿ da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que preside o Conselho de Administração da Petrobrás.
O segundo diretor em vias de substituição é o responsável pela Área Internacional, Nestor Cerveró, funcionário qualificado da empresa indicado pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS). O terceiro é Guilherme Estrella, diretor de Exploração e Produção. Filiado ao PT, sua competência técnica é conhecida e não recebeu críticas. É um dos responsáveis pelos investimentos da empresa na Bacia de Santos.
Um quarto diretor envolvido no processo sucessório é Paulo Roberto da Costa, da Área de Abastecimento, outro técnico de carreira da Petrobrás, indicado pelo PP. O motivo de sua demissão seria o fato de ter afastado o gerente de Abastecimento, Alan Kardec, afilhado político do ministro de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, do PTB.
Na segunda-feira, as substituições na diretoria da Petrobrás foram o tema de conversa do presidente da empresa, Sérgio Gabrielli, com o presidente Lula. As mudanças teriam sido acertadas para oficialização pelo Conselho de Administração da Petrobrás, amanhã.
A Petrobrás sempre foi tida como uma estatal (quase) imune às ingerências políticas. Mesmo no caso de diretores indicados por políticos, era necessário pertencer aos quadros permanentes da empresa.
Não se deve, ainda, misturar a troca prevista na diretoria com a indicação já formalizada de Theodore Helms, que trabalha na Petrobrás desde 1999, para substituir Raul Campos como gerente da Área de Relações com Investidores.
O que chama a atenção nas mudanças é a influência crescente do comando político do governo sobre a Petrobrás. ¿A decisão (de substituir diretores da empresa) cabe à presidente do Conselho, que é a ministra Dilma¿, admitiu ao Estado Sérgio Gabrielli.
Estão em jogo o que não poderia estar - as principais diretorias técnicas da Petrobrás. Uma delas, a de Exploração e Produção, é a responsável pelos investimentos visando à auto-suficiência do País em petróleo, sendo a área mais importante no longo prazo. E a diretoria de Abastecimento responde pelas refinarias, fixação de preços, importações e exportações da empresa.
O caso mais explícito de ¿prêmio de consolação¿ a aliados políticos derrotados é o de José Eduardo Dutra, do PT, citado como substituto de Maria das Graças Foster na presidência da BR Distribuidora. Ex-presidente da Petrobrás, Dutra foi derrotado ao concorrer ao cargo de governador de Sergipe, nas últimas eleições.
O governo Lula conseguiu êxitos nas áreas preservadas da era FHC, que podem ser consideradas ilhas de excelência na administração federal, como o Banco Central, o Tesouro Nacional e os Ministérios do Desenvolvimento e da Agricultura. A Petrobrás era outro exemplo. Embora abrigando indicações partidárias em postos de assessoria regiamente remunerados, foi uma das empresas que menos sofreram com o oportunismo político e com o loteamento dos cargos.
A disputa aberta pelas principais diretorias executivas da empresa é uma explicitação lamentável dos costumes políticos do governo Lula - costumes mantidos sempre em detrimento dos interesses do País e, neste caso, dos acionistas privados da Petrobrás.