Título: Operadores tensos, pilotos inseguros
Autor: Rigi, Camilla e Brancatelli, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2007, Metrópole, p. C6

Piratas 'não têm noção do crime que cometem', afirma especialista.

No Aeroporto de Congonhas há uma sala sem janelas, onde um controlador e um assistente dividem cada console. Trata-se do Centro de Controle de Aproximação da Área Terminal de São Paulo, que gerencia todo o tráfego dos Aeroportos de Congonhas, Cumbica e Viracopos e da rota Rio-São Paulo. De repente, a queixa de um piloto em vôo causa sobressalto: 'Estou recebendo uma rádio pirata... O nome é Lokalroots, com k.' O controlador tenta disfarçar a contrariedade: 'Controle ciente, grato pela informação.'

Mais informações no site

A conversa, registrada na segunda-feira, às 13h28, mostra algo que virou corriqueiro na comunicação entre pilotos e controladores. Tenso, o operador chama o supervisor, que anota a ocorrência para repassá-la à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

'É mais importante ter as comunicações (pelo rádio) que o próprio radar', disse o especialista em tráfego aéreo Carlos Heredia. Em caso de interferência, o controlador insiste no contato com o piloto. Se não consegue, muda o canal para uma freqüência alternativa. Às vezes, repetidamente. Uma situação que deixa operadores tensos e pilotos inseguros.

'Existem duas modalidades de trabalho com radar. Uma delas é a vetoração, na qual o controlador assume totalmente a navegação da aeronave. Suas instruções para o piloto têm de ser realizadas instantaneamente. Se nesse instante houver interferência nas comunicações, o piloto não fará a manobra ou ficará inseguro sobre a instrução', explica Heredia. 'Desse ponto a um acidente basta um passo.'

ESTAÇÕES VHF

Desde julho, para contornar o problema das interferências de rádios piratas, a Aeronáutica diminuiu a potência da estação VHF que fica na capital e intensificou a de outras quatro, em Campinas, Santos, São José dos Campos e São Roque. Segundo o chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo, coronel Carlos Minelli de Sá, a mudança melhorou a recepção dos controladores, mas, para os pilotos, tudo continua igual.

Na semana passada, uma interferência de cinco minutos na aproximação do Aeroporto de Cumbica provocou espaçamentos e esperas de vôos, só normalizados quatro horas depois. Na segunda-feira, segundo Heredia, um piloto anotou o telefone da rádio que causava forte interferência nas comunicações do controlador com os aviões. 'O supervisor ligou para a rádio para avisar que estavam interferindo na nossa comunicação e a pessoa que atendeu não acreditou, disse que era trote', contou Heredia. 'Eles não têm noção do crime que estão cometendo.'