Título: Cortes e mais aulas a distância
Autor: Nunomura, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2007, Vida &, p. A29

Para alunos, recurso complementar está sendo usado para reduzir custos.

O estudante Ivo Pedro dos Santos, do 5º ano de Direito da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), em São Paulo, fez as contas e viu que, uma semana por mês, vai ter aulas em casa, numa lan-house ou em qualquer lugar que preferir, exceto na escola. Membro da União Nacional dos Estudantes, ele promoveu um protesto semana passada na porta do campus São Miguel (zona leste) contra a obrigatoriedade de aulas semi-presenciais, por achar que elas têm sido usadas não de forma complementar, mas substituta. ¿Ainda vamos perder um dia de classe normal para discutir o tema.¿

¿Estão tentando implementar essa facilidade¿, diz Augusto Chagas, presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo. Como a Unicsul, a Anhembi-Morumbi também adota o sistema para disciplinas optativas. Quem perde a época da matrícula - e não são poucos, já que têm de estar em dia com a mensalidade - precisa fazer o curso online.

O Ministério da Educação permite que até 20% das aulas sejam dadas a distância, porém como ferramenta complementar. Mas, em alguns casos, isso serve de pretexto para demitir professores não capacitados em novas tecnologias. Em outras palavras, cortar custos. ¿É uma tentativa, estamos introduzindo neste ano e ainda faremos uma avaliação¿, diz o presidente do sindicato patronal, Hermes Ferreira Figueiredo, dono da Unicsul.

Há cinco anos, a instituição trabalha para adotar o sistema Blackboard (o aluno ganha uma senha e entra numa rede interna onde tem acesso ao conteúdo das disciplinas), agora obrigatório a todos os estudantes. ¿O aluno só vê o contato com a máquina, mas não analisa o conteúdo que está ali por trás. Há professores disponíveis 24 horas, monitores, conteudistas, coordenadores do cursos, a licença dos programas¿, diz Figueiredo.

Para a coordenadora-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino, Madalena Guasco Peixoto, os professores estão sendo considerados monitores das aulas online e geralmente isso ocorre com rebaixamento de salário. Uma nova figura foi criada em lugar do professor tradicional, o tutor eletrônico, nem sempre com a mesma qualificação. Quase sempre com salários inferiores a de um professor que dá aula no quadro negro. ¿Quem se sujeita a esse tipo de trabalho, fica a descoberto num acordo coletivo¿, alerta.

NÚMEROS

>73% das matrículas do ensino superior do País estão em instituições privadas

>4,5 milhões de universitários cursam instituições particulares

>42% foi o aumento do número de matrículas de 2002 a 2005 em faculdades, modelo mais barato de manter do que universidades

>70,6% mais matrículas foram verificadas no período em centros universitários, também mais baratos que universidades