Título: Exército fica insatisfeito com `ameaça¿ de Jobim
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2007, Nacional, p. A7

Há reação nas três Forças e militares aguardam volta de comandante para decidir se respondem à declaração.

Ao retornar hoje de viagem à Argentina, o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, terá de dedicar o dia a administrar a insatisfação dos subordinados e evitar qualquer manifestação contra o que está sendo chamado de ¿ameaça desnecessária¿ feita pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Anteontem, na solenidade de lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, obra criticada pelos militares, Jobim afirmou: ¿Não haverá indivíduo que possa a isto reagir e, se houver, terá resposta.¿

A insatisfação já era grande com o próprio livro-relatório, lançado no Palácio do Planalto para enterrar as versões dadas pelo regime militar (1964-1985) para o desaparecimento de presos políticos. Traz mais de 400 casos e reconhece oficialmente, pela primeira vez no País, que as forças da repressão cometeram crimes como torturas.

Para os militares, o livro só conta um lado da história. Um oficial relatou que eles ficaram ¿absolutamente perplexos¿ e ¿revoltados¿ com a afirmação de Jobim, durante o seu discurso.

O assunto dominou as conversas em várias unidades militares do País, tanto do pessoal do Exército, como da Marinha e Aeronáutica. A Força que mais se considerou atingida foi o Exército, avaliando que nem o discurso do secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi ofensivo como o de Jobim. Um oficial-general ouvido pelo Estado disse que os militares estavam sendo ¿atingidos dentro da trincheira¿. E afirmou não entender o motivo da ¿ameaça gratuita¿.

Apesar da revolta, todos garantiram que vão aguardar a chegada do comandante Peri, quando receberão as devidas instruções de como devem se comportar - se respondem ou não a Jobim.

O ministro explicava ontem que não fez ameaça às Forças Armadas, mas a ¿indivíduos¿ que poderiam se manifestar contra a intenção do governo de fazer o lançamento do livro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também comentou o assunto: ¿Foi uma bela solenidade. Militares precisam entender de uma vez por todas que os militares de hoje não são os mesmos de ontem, os homens também não. A anistia veio para todo mundo.¿ E finalizou: ¿O tempo é outro e a história é a história. As famílias têm o direito de reivindicar o enterro de seu mortos.¿