Título: Investigação de Waldomiro avança em marcha lenta
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2007, Nacional, p. A11

Festejado pela eficiência ao apresentar a denúncia do mensalão, o Ministério Público Federal tem dado sinal contrário no caso Waldomiro Diniz, o ex-subchefe da Casa Civil da Presidência acusado de tráfico de influência para renovação do contrato da empresa Gtech com a Caixa Econômica Federal e de negociar com empresários do jogo o favorecimento em licitações.

À época, José Dirceu era ministro da Casa Civil e o episódio ficou marcado como o primeiro grande escândalo do governo Lula. Passados quatro anos, os procuradores dizem que não oferecerão denúncia no decorrer deste ano e alegam ter prazo até 2011, sem risco de prescrição, para propor a ação penal contra os acusados.

¿Para mim, o prazo importante é o de oito anos. Não vamos chegar em 2010 com esse troço, muito menos 2011, que seria o limite. Mas vamos levar até o limite para a investigação ser completa e bem feita. Esse ano não vamos oferecer a denúncia¿, disse o procurador da República José Robalinho Cavalcanti, que divide com os colegas Gustavo Veloso e Lívia Tinoco a responsabilidade pelo caso.

SEM INTERFERÊNCIA

¿Os membros do Ministério Público têm total autonomia, independência funcional e responsabilidade pessoal. Cada um responde por si e pelos atos que lhe competem. Provavelmente, eles não fizeram a denúncia por não conseguir elementos para oferecê-la. Eu não interfiro no trabalho deles¿, comentou o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.

Comparado ao processo do mensalão, o caso Waldomiro é um exemplo de morosidade. O tempo para apuração foi muito maior do que o concedido aos investigadores do mensalão e o número de acusados é quase a metade dos 40 envolvidos naquele escândalo. Além disso, os procuradores já receberam os relatórios da CPI dos Bingos com os depoimentos dos acusados.

No rol de justificativas para o tempo de tramitação do caso, os procuradores relacionam a demora no envio dos documentos e provas por parte da CPI. Essa documentação somente teria chegado em junho. Além disso, ressaltam que a apuração depende de organismos internacionais. Em alguns casos, eles chegaram a ter acesso a provas, mas foram proibidos de copiá-las para anexar ao inquérito. Por fim, lembram que a primeira denúncia do caso Waldomiro acabou rejeitada por ter sido formulada apressadamente.

A promessa é de que a investigação será coroada de êxito. Apresentar denúncia agora, dizem eles, seria sinal de incompetência e preguiça nos trabalhos. ¿Deixaríamos de pegar um fato maior para apresentar apenas um pedaço. É até injusto fazer isso. Eu me sentiria incompetente. Seria fazer um serviço de porco¿, alegou Veloso.