Título: A nova responsabilidade do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2007, Economia, p. B2

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá nos dias 4 e 5 de setembro num clima totalmente diverso do que prevaleceu nas reuniões anteriores, em razão das perturbações no mercado financeiro internacional, e terá de levar em conta essa modificação.

A missão principal do Copom é controlar a inflação, mas não é menos importante que leve em conta o novo ambiente com o qual a economia brasileira se depara. Tudo indica que a inflação ganhou um avanço não desprezível nas últimas semanas, embora não tenha extravasado os limites previstos pelo Conselho Monetário Nacional.

Três fatores principais contribuíram para esse salto da inflação: a desvalorização do real, que se traduz em elevação dos preços de produtos importados (inclusive de bens intermediários que vinham contribuindo para a redução do custo de alguns bens aqui produzidos); a alta dos produtos agrícolas, diante do choque da demanda no mercado internacional; e a forte redução da liquidez no mundo, que acarreta maiores dificuldades para contratar empréstimos no exterior, tornando-os mais caros também e levando as empresas nacionais a recorrerem mais à poupança interna a um custo maior.

As autoridades monetárias terão de levar em conta esses novos aspectos e procurar compensar seus efeitos negativos.

Diante de uma elevação da inflação, a tendência natural do Copom seria aumentar a taxa Selic. Tudo indica, porém, que não será essa a atitude do Copom, que, provavelmente, na sua próxima reunião, aceitará reduzir de 0,25 ponto porcentual a taxa atual, interrompendo a fase anterior de cortes maiores.

É compreensível essa prudência, mas consideramos que nas reuniões seguintes as autoridades monetárias, salvo um forte aumento da inflação, deveriam continuar com as reduções da Selic, prudentemente, mas sem elevá-la ou estabilizá-la.

O Copom precisa corrigir erros do passado, quando a Selic foi reajustada bem acima da inflação prevista e por tempo exagerado. Isso só se justifica por períodos breves e diante de uma inflação muito alta. Os exageros transformaram a Selic, de um instrumento de contenção da inflação, em fator de elevação do custo final do crédito, que inibiu maior crescimento. É hora, agora, de procurar novos instrumentos (compulsório, maior concorrência entre os bancos, redução da alíquota da CPMF) para melhor controlar a inflação.